sábado, 20 de junho de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

COHEN EM LISBOA

Tirando alguns de música clássica na Gulbenkian, não sou de concertos.

Os motivos são aparentemente claros, umas vezes porque os preços dos bilhetes saltam a barreira de economia caseira, outras o desconforto dos locais e como sou  um tanto ou quanto duro de ouvido, a deficiência obriga a escolher os lugares mais caros.

Leonard Cohen é uma das muitas referências que transporto pela vida.

Veio duas ou três vezes a Lisboa.

Está por cá, novamente.

Com 78 anos feitos no passado dia 21 de Setembro, é provável que esta fosse uma última oportunidade para assistir a um concerto seu.

Se bem que me cause arrepios Cohen a cantar no Pavilhão Atlântico – tem um som completamente a desejar, ao que dizem – ainda fui até lá baixo, para ver como era isso do preço dos bilhetes.

A meio da tarde, as bilheteiras estavam abertas e nos vinte minutos que por ali permaneci, nenhum movimento a não ser um cidadão que perguntou pela possibilidade de trocar de lugar.

Já tinha olhado a tabela de preços: o bilhete mais barato custava 30,00 euros, o mais caro 85,00 euros e era neste lugares que eu teria de me sentar para, minimamente, ouvir qualquer coisa de jeito.

Ainda não foi desta que fui ouver Leonard Cohen.

Apesar da idade, é provável que volte.

Aparecem sempre umas dívidas antigas que terão de ser liquidadas.

Tirei uma fotografia ao cartaz.

 Neste momento já terá subido ao palco, com a quantidade certa de vinho, arrancou com take this waltz and dance do the end of love,  e lá pelo meio lembrará que  como um pássaro num fio pousado, como um bêbado num coro nocturno eu tentei a meu modo ser livre.

Neste momento estou  a ouvir o CD que regista o concerto que em Maio de 1993 realizou em Zurique.

Abro o seu Filhos da Neve na página 89 e copio:

Pergunto-me quanta gente nesta cidade
vive em apartamentos mobilados.
Altas horas da noite quando olho os outros prédios
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha também
e quando volto para dentro
pergunto-me quantos se sentam às suas escrivaninhas
e escrevem isto mesmo


Texto publicado no dia 7 de Outubro de 2012

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