segunda-feira, 15 de junho de 2020

OLHARES



Os velhos da rua vão ficando acamados, outros já partiram.
Aliás, quando os começo a ver com alguém ao lado, segurando-lhes no braço, sei que esse é o princípio do que se seguirá.
Também há recuperações, como a Dona Berta que, com o marido, depois de uma longa ausência, regressou ao Café do Senhor Carlos que antes foi do Senhor Pereira e que ela sempre frequentou, para tomar o seu galão com torrada quase sem manteiga.
À rua tem chegado gente nova, a maior parte vinda de outros países, mas é gente temporária, raros são os que ficam.
Mas venho por outra história.
Há praticamente um mês que este triciclo de brincar está amarrado a este sinal. Tem um papel que diz que se vende por cinco euros e tem o número do telemóvel para onde se deve ligar.
Mas quem o colocou ali?
O Orlando, que tem loja de ferragens em frente do sinal, tem a vaga ideia que foi um velhote que, todos os dias, percorre os caixotes de lixo da rua.
O que é curioso é que o triciclo está ali, dia e noite, e ainda ninguém o roubou.

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