sábado, 13 de junho de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

O QU’É QUE VAI NO PIOLHO?

Dormir, ou fechar os olhos no cinema.

De certeza que já me aconteceu, mas não guardo memória.

Alexandre O’ Neill dormia no cinema.

Pamela Ineichen, na Biografia Literária que Maria António Oliveira escreveu sobre O’Neill, conta:

Numa ocasião em Paris com o Artur Ramos e a Helena fomos ver um filme de Ingmar Bergman que estava proibido em Portugal, Como o Alexandre gostava de se sentar atrás, ficámos separados dos nossos amigos. Mal o filme começou, o Alexandre começou a ressonar. Era inútil tentar acordá-lo. À saída, o Artur perguntou-lhe o que ele pensava do filme. Qual não foi o meu espanto quando o Alexandre respondeu com toda a calma: «uma merda»! Ao chegarmos a casa disse-lhe: «Alexandre, francamente! Dormiste o filme inteiro, como é que pode s afirmar que o filme era uma merda?» «Se não fosse, não tinha dormido», respondeu-me ele com grande calma!

Recentemente, Manuel S. Fonseca confessava no blogue Escrever é triste:

Só vou ao cinema quando me ape­tece. Não tenho obri­ga­ções pro­fis­si­o­nais e se vou é por pra­zer. Vou e se me ape­te­cer dor­mir um boca­di­nho no meio de um filme, durmo. E perco, com dis­pli­cên­cia, mesmo fil­mes que são “fun­da­men­tais”, “essen­ci­ais” e ai meu Deus que com a arte não se brinca.
Brinca, sim senhor. 

Texto publicado em 9 de Março de 2015

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