terça-feira, 2 de junho de 2020

TUPELO, MISSISSIPI - BIRTHPLACE OF ELVIS PRESLEY


Acelerei o mais possível por aquela Estrada 45 fora, esperando que, como era Sábado, a Casa fechasse mais tarde e não às estúpidas 17h00, como era habitual.

O dia já ia bem cheio porque tinha passado pela “Dockery Plantation”, local onde muitos garantem ter nascido o “Blues” do Delta da Mississippi, e depois tinha estado em Rowan Oak, numa povoação chamada Oxford, que é a casa onde William Faulkner viveu com a sua Família durante mais de 30 anos, aí tendo escrito a maior parte da sua Obra.


E foi em Rowan Oak que perdi mais tempo, não só porque visitei a casa de ponta a ponta com todo o vagar, como à saída me apeteceu também vaguear pelo jardim e depois descansar uns minutos, no mesmo banco onde Faulkner também gostava de se sentar. E de seguida fui passear pelo Centro de Oxford e visitar as suas belas livrarias, ricas como não vi outras iguais nesta viagem pelo Sul dos Estados Unidos.


Não admira... É uma cidade universitária que nos dá a sensação de estarmos algures em França ou Inglaterra, e não no Mississippi profundo.

Mas as minhas melhores esperanças de condutor apressado não se iriam concretizar...
17h00 são 17h00, quer seja Sábado ou dia de semana, e quando chegámos a Tupelo tanto a casa onde Elvis Presley nasceu, como o museu que lhe é adjacente, já estavam a encerrar as suas portas.


Este espaço de homenagem a Elvis engloba, para além da casa, um pequeno museu, uma igreja e um grande jardim, um pouco mais afastado.

É um lugar calmo e aprazível, sentindo-se aqui um genuíno desejo de honrar, de uma forma digna e humilde, a memória do herói local, e não de fazer um ataque desenfreado ao bolso do visitante, como sucede em Graceland.


Embora tivesse levado bastante tempo a concretizar, tudo isto terá sido imaginado muito cedo quando Elvis, já a caminho do estrelato após o lançamento do primeiro álbum e das suas primeiras aparições na televisão, atuou pela primeira vez na sua terra natal, em 26 de Setembro de 1956, e doou a receita do concerto à edilidade local para a construção de um parque em sua memória.

Hoje o “Elvis Presley Park” impõe-se, imponente, lá no alto, com algumas estátuas de bronze a homenagear o intérprete de “Love me Tender”.


A casa tinha-se mantido desabitada e estava em muito mau estado de conservação, mas não tardou que os fãs de Elvis tivessem conhecimento da sua existência e começassem a chegar a Tupelo com desejo de a visitar. Quando, no início dos anos 70, foi decidido recuperá-la e abri-la ao público, foi posto um anúncio num jornal local solicitando à população a doação de loiças e mobiliário da época, e foi assim que foi constituído o recheio atual casa...




Como já vos disse, não pude visitar o museu, mas sei que, entre muitas outras coisas, tem no seu interior fotografias da Família Presley nas quais um Elvis criança e adolescente surge ao lado dos seus pais, alguns instrumentos musicais, roupa da época e uma “maquette” de como era a casa e as imediações em meados dos anos 30 do século passado.


Nas suas paredes exteriores o museu está coberto de mensagens de quem privou de perto com o Elvis desses tempos, desde vizinhos e colegas de escola ao pároco da igreja.

A igreja pertencia à “First Assembly of God Church” da qual a mãe de Elvis, Gladys, fazia parte, e estava um quarteirão mais afastada, tendo sido, posteriormente, transplantada para este espaço. Foi nesta igreja que Elvis tomou contacto com a música “Gospel” e ouviu os primeiros “hymns” que tanto o influenciaram e que tantas vezes iria homenagear em gravações ao longo da sua carreira. E foi também aqui que o jovem Elvis cantou em público pela primeira vez.


Quanto à origem da modesta casa, a história conta-se em poucas palavras.

Sabendo que a sua mulher iria dar à luz pela primeira vez e que necessitariam de melhores condições de alojamento, o pai de Elvis, Vernon Presley, pediu 180 dólares emprestados e construiu-a ele próprio em 1934.


A 8 de Janeiro do ano seguinte nasceria Elvis, que teria melhor sorte do que o seu irmão gémeo Jesse, nado-morto uns minutos antes.

Mas Vernon Presley não conseguiu pagar o empréstimo dentro do prazo previsto e a Família teve de largar a casa aos credores, tinha Elvis 3 anos.


Seguir-se-iam mais 10 anos de vida difícil em Tupelo, mudando de casa com frequência, até que em 1948, tinha Elvis 13 anos, a Família se meteu à estrada num Plymouth de 1939 igual a este que aqui veem, a caminho de Memphis.

Foi a sorte de Elvis.

O ambiente musical com que iria deparar em Memphis motivou-o e deu-lhe outras oportunidades que, provavelmente, nunca teria encontrado se tivesse permanecido em Tupelo.

Mas isso é outra história, que contarei quando vos falar da “Sun Records”.

É, na verdade, um bonito espaço este de Tupelo, e só lamento não ter tido tempo para nele me passear com outra disponibilidade.



De saída da cidade parei num daqueles grandes bares à beira da estrada onde nos podemos sentar ao balcão e escolher uma de entre as trinta e seis variedades de cerveja de pressão que temos à nossa frente.

Vendo-me a tirar fotografias, alguém a meu lado meteu, gentilmente, conversa, e eu contei-lhe o que me tinha trazido àquela terra, pensando para comigo que nem teria sido necessário explicar, porque saloios como eu à procura de Elvis paparia ele, certamente, todos os dias ao pequeno almoço...

Entre outras coisas, disse-nos que perto do Centro da cidade havia um bonito mural em homenagem a Elvis mas, na verdade, já era tarde e não tive tempo de por lá passar...

É que me esperava, ainda, um festival de “Blues”, na noite de Clarskdale.

PS:

“Dockery Plantation” e “Rowan Oak” terão direito, cada uma, a seu texto.

Texto e fotografias de Luís Miguel Mira

2 comentários:

Seve disse...

Estou absolutamente esgotado de inveja - isto sim é que é viajar!

Que sensação...nem tenho palavras.

Luís Miguel Mira disse...

Caro Seve,
Escrevo estes textos para registar algumas memórias antigas de viagens e aceito partilhá-los com um número selecionado de Amigos, sendo que alguns deles, com a minha autorização, os publicam nos seus "blogues" quando entendem que tal se justifica.
Se leu os meus textos e deles retirou algum prazer, fico muito satisfeito.
Mas longe de mim pretender fazer inveja a quem quer que seja...
Um abraço do
LM