Acelerei o mais
possível por aquela Estrada 45 fora, esperando que, como era Sábado, a Casa
fechasse mais tarde e não às estúpidas 17h00, como era habitual.
O dia já ia bem cheio
porque tinha passado pela “Dockery Plantation”, local onde muitos garantem ter nascido
o “Blues” do Delta da Mississippi, e depois tinha estado em Rowan Oak, numa
povoação chamada Oxford, que é a casa onde William Faulkner viveu com a sua Família
durante mais de 30 anos, aí tendo escrito a maior parte da sua Obra.
E foi em Rowan Oak
que perdi mais tempo, não só porque visitei a casa de ponta a ponta com todo o vagar,
como à saída me apeteceu também vaguear pelo jardim e depois descansar uns
minutos, no mesmo banco onde Faulkner também gostava de se sentar. E de seguida
fui passear pelo Centro de Oxford e visitar as suas belas livrarias, ricas como
não vi outras iguais nesta viagem pelo Sul dos Estados Unidos.
Não admira... É uma
cidade universitária que nos dá a sensação de estarmos algures em França ou Inglaterra,
e não no Mississippi profundo.
Mas as minhas
melhores esperanças de condutor apressado não se iriam concretizar...
17h00 são 17h00, quer
seja Sábado ou dia de semana, e quando chegámos a Tupelo tanto a casa onde Elvis
Presley nasceu, como o museu que lhe é adjacente, já estavam a encerrar as suas
portas.
Este espaço de
homenagem a Elvis engloba, para além da casa, um pequeno museu, uma igreja e um
grande jardim, um pouco mais afastado.
É um lugar calmo e
aprazível, sentindo-se aqui um genuíno desejo de honrar, de uma forma digna e humilde,
a memória do herói local, e não de fazer um ataque desenfreado ao bolso do
visitante, como sucede em Graceland.
Embora tivesse levado
bastante tempo a concretizar, tudo isto terá sido imaginado muito cedo quando Elvis,
já a caminho do estrelato após o lançamento do primeiro álbum e das suas
primeiras aparições na televisão, atuou pela primeira vez na sua terra natal,
em 26 de Setembro de 1956, e doou a receita do concerto à edilidade local para
a construção de um parque em sua memória.
Hoje o “Elvis Presley
Park” impõe-se, imponente, lá no alto, com algumas estátuas de bronze a homenagear
o intérprete de “Love me Tender”.
A casa tinha-se
mantido desabitada e estava em muito mau estado de conservação, mas não tardou
que os fãs de Elvis tivessem conhecimento da sua existência e começassem a chegar
a Tupelo com desejo de a visitar. Quando, no início dos anos 70, foi decidido
recuperá-la e abri-la ao público, foi posto um anúncio num jornal local
solicitando à população a doação de loiças e mobiliário da época, e foi assim
que foi constituído o recheio atual casa...
Como já vos disse,
não pude visitar o museu, mas sei que, entre muitas outras coisas, tem no seu
interior fotografias da Família Presley nas quais um Elvis criança e adolescente
surge ao lado dos seus pais, alguns instrumentos musicais, roupa da época e uma
“maquette” de como era a casa e as imediações em meados dos anos 30 do século
passado.
Nas suas paredes
exteriores o museu está coberto de mensagens de quem privou de perto com o
Elvis desses tempos, desde vizinhos e colegas de escola ao pároco da igreja.
A igreja pertencia à
“First Assembly of God Church” da qual a mãe de Elvis, Gladys, fazia parte, e
estava um quarteirão mais afastada, tendo sido, posteriormente, transplantada
para este espaço. Foi nesta igreja que Elvis tomou contacto com a música
“Gospel” e ouviu os primeiros “hymns” que tanto o influenciaram e que tantas
vezes iria homenagear em gravações ao longo da sua carreira. E foi também aqui
que o jovem Elvis cantou em público pela primeira vez.
Quanto à origem da
modesta casa, a história conta-se em poucas palavras.
Sabendo que a sua
mulher iria dar à luz pela primeira vez e que necessitariam de melhores
condições de alojamento, o pai de Elvis, Vernon Presley, pediu 180 dólares
emprestados e construiu-a ele próprio em 1934.
A 8 de Janeiro do ano
seguinte nasceria Elvis, que teria melhor sorte do que o seu irmão gémeo Jesse,
nado-morto uns minutos antes.
Mas Vernon Presley
não conseguiu pagar o empréstimo dentro do prazo previsto e a Família teve de largar
a casa aos credores, tinha Elvis 3 anos.
Seguir-se-iam mais 10
anos de vida difícil em Tupelo, mudando de casa com frequência, até que em 1948,
tinha Elvis 13 anos, a Família se meteu à estrada num Plymouth de 1939 igual a
este que aqui veem, a caminho de Memphis.
Foi a sorte de Elvis.
O ambiente musical
com que iria deparar em Memphis motivou-o e deu-lhe outras oportunidades que, provavelmente,
nunca teria encontrado se tivesse permanecido em Tupelo.
Mas isso é outra
história, que contarei quando vos falar da “Sun Records”.
É, na verdade, um
bonito espaço este de Tupelo, e só lamento não ter tido tempo para nele me
passear com outra disponibilidade.
De saída da cidade
parei num daqueles grandes bares à beira da estrada onde nos podemos sentar ao balcão
e escolher uma de entre as trinta e seis variedades de cerveja de pressão que
temos à nossa frente.
Vendo-me a tirar
fotografias, alguém a meu lado meteu, gentilmente, conversa, e eu contei-lhe o
que me tinha trazido àquela terra, pensando para comigo que nem teria sido necessário
explicar, porque saloios como eu à procura de Elvis paparia ele, certamente,
todos os dias ao pequeno almoço...
Entre outras coisas,
disse-nos que perto do Centro da cidade havia um bonito mural em homenagem a Elvis
mas, na verdade, já era tarde e não tive tempo de por lá passar...
É que me esperava,
ainda, um festival de “Blues”, na noite de Clarskdale.
PS:
“Dockery Plantation”
e “Rowan Oak” terão direito, cada uma, a seu texto.
Texto e fotografias
de Luís Miguel Mira
2 comentários:
Estou absolutamente esgotado de inveja - isto sim é que é viajar!
Que sensação...nem tenho palavras.
Caro Seve,
Escrevo estes textos para registar algumas memórias antigas de viagens e aceito partilhá-los com um número selecionado de Amigos, sendo que alguns deles, com a minha autorização, os publicam nos seus "blogues" quando entendem que tal se justifica.
Se leu os meus textos e deles retirou algum prazer, fico muito satisfeito.
Mas longe de mim pretender fazer inveja a quem quer que seja...
Um abraço do
LM
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