venham ver o presépio: há pouca luz.
a figura do pai desapareceu.
despedaçou-o há dia um obus.
a mãe secou o leite. não comeu
mais do que umas raízes e algum lixo.
já nem lágrimas tem para as desgraças.
não há vaca nem burro. nenhum bicho
na azinhaga apodrecem as carcaças.
não virão os reis magos. não se engana
a agenda traficante que combina
o que pode valer a vida humana
em armamento e gramas de heroína.
no céu, mais um clarão de morte avança
de cauda tracejante que desponta.
nasceu estropiada uma criança.
e deus, se acaso existe, faz de conta.
Vasco Graça Moura poema retirado da antologia Natal…
Natais
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