Passaram hoje 130 anos
sobre as greves e manifestações do operariado norte-americano, principalmente
na zona de Chicago, pela redução do horário de trabalho para oito horas diárias
e 48 semanais no máximo.
Assim nasceu o Dia do
Trabalhador.
1.
Rui Manuel Amaral no seu blogue Bicho Ruim:
«O meu pai faz hoje 80 anos. Agora não tenho tempo para contar a
história da vida do meu pai, mas posso pelo menos dizer que é um digno
representante da velha classe trabalhadora. Reformou-se tarde e continuaria a
trabalhar se lho tivessem deixado. Como tantos outros, nunca soube o que fazer
ao «tempo livre». Se um homem nasce é para trabalhar. É uma questão de honra,
dignidade, enfim, de respeito. Hoje, 1.º de Maio, é o dia dele, o dia do velho
trabalhador. Devíamos estar juntos, como sempre aconteceu neste dia, mas o
vírus fechou-nos em casa. Sem bolo, sem velas, sem bandeiras vermelhas.»
2.
Também o posso dizer:
o meu pai reformou-se tarde e nunca quis que isso acontecesse.
Deixaram-no trabalhar até onde lhes foi possível que isso acontecesse.
Deixaram-no trabalhar até onde lhes foi possível que isso acontecesse.
Ao longo da vida foi
juntando os livros, os discos necessários para que não lhe acontecesse um
qualquer vazio.
Como ele muitas vezes
me disse: as coisas não são bem como a gente pensa e planeia.
Há sempre um raio de
um qualquer vazio que não se sabe como preencher.
Há gritos que vêm dos tempos da infância e marcam toda uma vida.
Há gritos que vêm dos tempos da infância e marcam toda uma vida.
3.
Sempre gostei de
cinema.
Mas pouco sei de
cinema, melhor diria se dissesse que não sei nada de cinema.
Delicio-me, bebo as palavras,
quando o Luís Miguel Mira começa a desfiar filmes e memórias.
Nasci e cresci num
pedaço da cidade rodeado de cinemas, a maior parte os chamados cinemas de «reprisse».
Já os enumerei mas repito: Cine Oriente, Royal, Max, Imperial, Rex.
Já os enumerei mas repito: Cine Oriente, Royal, Max, Imperial, Rex.
A três homens devo saber
ver os filmes, os actores, os realizadores, por outros prismas: João Bénard da
Costa, Manuel Cintra Ferreira. Manuel S. Fonseca.
Os dois primeiros
foram ver filmes para outras galáxias, o terceiro está por aí vivo da costa, a
escrever como só ele sabe escrever e é editor da Guerra
&Paz. Faz livros carotes, mas os editores dizem sempre que não é para rechear a conta bancária, mas porque é assim mesmo: saem caros. Acredite-se.
Eu que não entro numa
livraria desde o dia 23 de Fevereiro, e só eu sei o que isto me tem feito mal à
cuca.
Por cuca, saberá o
Manuel S. Fonseca melhor que eu, que era uma cerveja made na salazarenta
Angola.
Ah! se voltasse aos tempos
em que esvaziava Cucas estupidamente geladas!...
Mas transcreva-se lá o
textinho:
« Nasci em Vale de Madeira, aldeia ao lado de Pinhel. Menino, vivi no
Sambilas, musseque de Luanda. O livro salvou-me a vida. Por ser conhecimento, o
livro dá a quem o lê uma vida mais rica. É científico: a neurobiologia
atesta o efeito da leitura no cérebro. Ler romances, ler poesia dá
conhecimento. E enche-nos de prazer: o livro oferece aventura, empatia humana,
expande o imaginário, erotiza a vida. Ganhamos experiência, visitamos mundos
que existem e mundos que ainda hão de vir. O livro faz do leitor um deus e
dá-lhe delícias que rivalizam com prazeres de mesa e cama juntas. Tenha piedade
do seu espírito: compre e leia livros.»
4.
Lorna Breen, de 49
anos, era dircetora clínica do departamento de emergência do
Allen-Newby-Presbiteriano
em Manhattan, Nova Iorque.
Os colegas disseram ao The New York Times que, na luta contra o Corvid-19, Lorna Breen trabalhava arduamente.
Os colegas disseram ao The New York Times que, na luta contra o Corvid-19, Lorna Breen trabalhava arduamente.
Adoeceu e, contra o
conselho médico e familiar, voltou ao trabalho.
Em finais de Abril,
suicidou-se.
De repente salta-nos
que Nova Iorque não será bem aquela visão poética que temos, vinda dos filmes,
dos livros, das músicas.
Sabemos dos
sem-abrigo, sabemos dos que não tendo seguro, não são admitidos para tratamento
e muitos acabam por morrer, sabemos, agora das incapacidades para cremarem e
enterrarem os seus mortos, sabemos do gangster que preside ao país, dos disparates
que sobre a pandemia tem lançado aos quatro ventos.
Algo transtornou
Lorna Breen, o seu dia a dia ter-se-á tornado insustentável e não encontrou outra
escapatória.
Não basta bater
palmas aos médicos, aos enfermeiros, ao restante pessoal, que nos prestam assistência
médica.
5.
Os negros números:
Portugal ultrapassou as mil mortes. Regista 1.007 óbitos.
Estados Unidos: 62.906 mortos
Itália: 28.236 mortos
Grã-Bretanha: 227.510 mortos
França: 24.594 mortos
Espanha: 24.543 mortos
Em todo o mundo já morreram 237.647 pessoas.
Quanto à música para hoje, não existiram dúvidas.
Legenda: 1º de Maio, hoje, na Alameda, de acordo com as regras da pandemia
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