Na rede, que um
negro moroso balança,
qual berço de espumas,
formosa crioula repousa e dormita,
enquanto a mucamba nos ares agita
um leque de plumas.
Na rede perpassam as trémulas sombras
dos altos bambus;
e dorme a crioula de manso embalada,
pendidos os braços da rede nevada
mimosos e nus.
A rede, que os ares em torno perfuma
de vivos aromas,
de súbito pára, que o negro indolente
espreita lascivo da bela dormente
as túmidas pomas.
Na rede, suspensa de ramos erguidos
suspira e sorri
a lânguida moça cercada de flores;
aos guinchos dá saltos na esteira de cores
felpudo sagui.
Na rede, por vezes, agita-se a bela,
talvez murmurando
em sonhos as trovas cadentes, saudosas,
que triste colono por noites
formosas
descanta chorando.
A rede nos ares de novo flutua,
e a bela a sonhar!
Ao longe nos bosques escuros, cerrados,
de negros cativos os cantos magoados
soluçam no ar.
Na rede olorosa… Silêncio! Deixa-a
dormir em descanso!...
Escravo, balança-lhe a rede serena;
mestiça, teu leque de plumas acena
de manso, de manso...
O vento que passe tranquilo, de leve,
nas folhas do ingá;
as aves que abafem seu canto sentido;
as rodas do engenho não façam ruído,
que dorme a Sinhá!
Gonçalves Crespo
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