terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 Campanhas de Dinamização Cultural e Ação Cívica do MFA.

Uns nunca ouviram falar, outros já esqueceram.

Existe um livro, publicado pela Ulmeiro, da autoria de Ramiro Correia, Pedro Soldado e João Marujo : MFA: Dinamização Cultural, Acção Cívica, onde tudo, ou quase tudo, está explicado.

Um projecto de boas ideias que encontrou dificuldades enormes, desde o primeiro minuto boicotado, sabotagens diversas, umas silenciosas, outras bem gritadas.

Em MFA Dinamização Cultural Acção Cívica, Ramiro Correia reconhece que um problema que surgiu desde o início, foi o da dificuldade dos militares responderem a questões políticas delicadas. Era evidente a incapacidade na criação de quadros e também se tornava cada vez mais claro que as lutas pela conquista do poder, iriam afectar a qualidade e quantidades de militares dispostos a empenharem-se em acções desta natureza.

Neste país, a cultura sempre foi um enorme busílis.

Decididamente não devemos, não podemos, espantar-nos com as atitudes (não) culturais dos políticos, dos autarcas, dos deputados, dos governos. Têm todos sem excepção,  um soberano desprezo pela cultuar. Talvez não puxem da pistola mas não conseguem distinguir um livro de uma abóbora.

Deixou escrito Mário Dionísio:

«Que a cultura é uma arma poderosa na luta pela emancipação dos homens, nunca o fascismo português o ignorou ou esqueceu. O seu reino de opressão durou quase meio século – o tempo bastante para que outros fascismos nascessem, crescessem, desencadeassem a maior Guerra mundial de todos os tempos, nema fossem vencidos, fossem esquecidos, embora com outras máscaras regressassem ou  sem grandes alterações continuassem a existir. Nesse quase meio século, o fascismo português teorizou e praticou, do princípio ao fim, uma doutrinação obscurantista tão zelosa e permanentemente observada que ele próprio nunca mais conseguiu libertar-se dela, mesmo quando julgou que isso poderia ser-lhe de alguma utilidade: quando por necessidades de funcionamento  do Regime e, não menores de propaganda ante um mundo mais e mais hostil (sobretudo a partir da Guerra colonial), em vão tentou, nos últimos anos corrigir à pressa, ainda que superficialmente, a base fundamental da sua filosofia.»

Com as Campanhas de Dinamização Cultural não se pretendia levar cultura, mas motivar a população para que recuperasse as suas realidades através de uma cultura que possuíam mas não desenvolviam, não frequentavam.

Foi quando apareceram uns habilidosos que entenderam que o importante não era dinamizar a cultura mas estupidificar o povo.

Montanhas e montanhas de tele-novelas que obrigassem as gentes a ficar agarradas aos televisores e… nada de cultura.

Ao ponto de, durante os debates televisivos para as eleições de 10 de Março se tenha abordado tudo (?) excepto CULTURA.

As televisões transmitem diariamente horas e horas e horas, e horas de programas sobre futebol e não gastam 3 minutos a falar de um livro, de um f ilme, de uma exposição.

Sobre as dificuldades dos dinamizadores culturais, recorda-se  aquele oficial miliciano que, numa aldeia  transmontana, perguntou à assistência presente da sala:

«Vocês sabem o que é o socialismo?

Uma velhota devolveu-lhe:

E vossemecê sabe o que é um engaço?

O recorte, no topo do texto, recorda o episódio.

Habilidosamente, o jornalista que mais tarde recorda a cena, não deixa de comentar:

«…suspeito que o doutor já se tenha esquecido do socialismo mas ainda hoje a velhota, se for viva, há-de saber o que é o engaço.»

Sem comentários: