Este não é o dia seguinte do dia que
foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um
desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções,
fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer
especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
Campanhas de Dinamização Cultural e Ação
Cívica do MFA.
Uns nunca ouviram falar,
outros já esqueceram.
Existe um livro, publicado
pela Ulmeiro, da autoria de Ramiro Correia, Pedro Soldado e João Marujo : MFA:
Dinamização Cultural, Acção Cívica, onde tudo, ou quase tudo, está
explicado.
Um projecto de boas ideias que
encontrou dificuldades enormes, desde o primeiro minuto boicotado, sabotagens
diversas, umas silenciosas, outras bem gritadas.
Em MFA Dinamização Cultural Acção Cívica, Ramiro Correia
reconhece que um problema que surgiu desde o início, foi o da dificuldade dos
militares responderem a questões políticas delicadas. Era evidente a
incapacidade na criação de quadros e também se tornava cada vez mais claro que
as lutas pela conquista do poder, iriam afectar a qualidade e quantidades de
militares dispostos a empenharem-se em acções desta natureza.
Neste país, a cultura sempre
foi um enorme busílis.
Decididamente não devemos, não
podemos, espantar-nos com as atitudes (não) culturais dos políticos, dos
autarcas, dos deputados, dos governos. Têm todos sem excepção, um soberano desprezo pela cultuar. Talvez não
puxem da pistola mas não conseguem distinguir um livro de uma abóbora.
Deixou escrito Mário Dionísio:
«Que a cultura é uma arma
poderosa na luta pela emancipação dos homens, nunca o fascismo português o
ignorou ou esqueceu. O seu reino de opressão durou quase meio século – o tempo bastante
para que outros fascismos nascessem, crescessem, desencadeassem a maior Guerra
mundial de todos os tempos, nema fossem vencidos, fossem esquecidos, embora com
outras máscaras regressassem ou sem
grandes alterações continuassem a existir. Nesse quase meio século, o fascismo
português teorizou e praticou, do princípio ao fim, uma doutrinação
obscurantista tão zelosa e permanentemente observada que ele próprio nunca mais
conseguiu libertar-se dela, mesmo quando julgou que isso poderia ser-lhe de
alguma utilidade: quando por necessidades de funcionamento do Regime e, não menores de propaganda ante
um mundo mais e mais hostil (sobretudo a partir da Guerra colonial), em vão
tentou, nos últimos anos corrigir à pressa, ainda que superficialmente, a base
fundamental da sua filosofia.»
Com as Campanhas de
Dinamização Cultural não se pretendia levar cultura, mas motivar a população
para que recuperasse as suas realidades através de uma cultura que possuíam mas
não desenvolviam, não frequentavam.
Foi quando apareceram uns
habilidosos que entenderam que o importante não era dinamizar a cultura mas
estupidificar o povo.
Montanhas e montanhas de
tele-novelas que obrigassem as gentes a ficar agarradas aos televisores e… nada
de cultura.
Ao ponto de, durante os
debates televisivos para as eleições de 10 de Março se tenha abordado tudo (?)
excepto CULTURA.
As televisões transmitem
diariamente horas e horas e horas, e horas de programas sobre futebol e não
gastam 3 minutos a falar de um livro, de um f ilme, de uma exposição.
Sobre as dificuldades dos dinamizadores culturais, recorda-se aquele oficial miliciano que, numa aldeia transmontana, perguntou à assistência presente da sala:
«Vocês sabem o que é o socialismo?
Uma velhota devolveu-lhe:
E vossemecê sabe o que é
um engaço?
O recorte, no topo do
texto, recorda o episódio.
Habilidosamente, o
jornalista que mais tarde recorda a cena, não deixa de comentar:
«…suspeito que o doutor já
se tenha esquecido do socialismo mas ainda hoje a velhota, se for viva, há-de
saber o que é o engaço.»
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