Ora deixai-me dizer
que vejo tudo ao
contrário
do que era lícito
ver
Ontem encontrei um
operário
todo de pernas
para o ar
no bolso de um
usurário
«Que linda vista
para o mar!»
dizia – e dizendo
isto
tinha uns olhos a
chorar
que eram tal qual
os do Cristo
nos bonecos de se
orar.
De repente o
usurário
vai para o bolso
do operário
«Que linda vista
para o campo!»
dizia – e dizendo
isto
escondia num lenço
branco
um dinheirinho
que era a túnica
do Cristo
à moda do Minho.
Vai daí veio a
polícia
o exército a
milícia
com trinta carros
de assalto
e um capitão muito
alto.
Zás! Zim! Bum! já
nada vejo
e até creio que morri.
«Que linda vista
para o Tejo!»
– Mas o que
é que se passa aqui?
Mário Cesariny em Burlescas, Teóricas eSentimentais
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