domingo, 25 de fevereiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL

         Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                     João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 Quando se fala de José Afonso, é sempre escasso o tempo que se lhe dedica. 

Que me lembre, nunca o tratei por Zeca, não me perguntei porquê, mas se insistirem, direi que não gosto!

Com um misto de raiva e decepção, verifico que, neste Cais do Olhar não está referida uma boa série de discos do José Afonso que se encontram na Biblioteca da Casa.

E isso é já tarefa para amanhã!

Falar de José Afonso é lembrar aquela canção dos Vampiros, que comiam tudo, não deixavam nada

É domingo e Abril está quase aí.

Nestas Viagens Por Abril ainda ficamos com José Afonso.

Sem muitos o saberem, o Dia das Surpresas estava em construção.

 Neste caminhar do 25 de Abril pelo tempo, há quem pergunte se foi cumprido o que, por aqueles tempos, foi prometido ao povo.

Há um poema de José Saramago em que se pode ler:

 «O homem diz que sabe o caminho, mas não acrediteis porque o homem não sabe o caminho e há sessenta séculos que o homem diz: Eu sei o caminho mas nós sabemos que o homem não sabe o caminho e outros sessenta séculos ouviremos o homem dizer: Eu sei o caminho mas o pobre do homem não soube, não sabe, nem saberá jamais o caminho.»

Não sei das contabilidades do que se cumpriu ou não cumpriu.

 Pelo menos sei de uma: o fim da guerra colonial!

 Lembram-se das palavras de morte que o botas-ditador-de-santa-comba

nos lançou?

«A Pátria não se discute, defende-se!»

 Mas qual pátria?

 Toda uma juventude serviu de carne para canhão para defender o que nem sequer era nosso.

 O Jorge de Sena tem um poema, simplesmente arrepiante, que marca o quanto foi possível aqueles ditadores de pacotilha terem resistido tanto tempo:


«Uma vez eu, chegando a Portugal
após muitos anos de ausência minha e alguns
de guerras africanas, encontrei uma vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Africas, arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito mais
que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.
E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!»

 

Esta Balada, de imediato proibida de ser ouvida na rádio, proibido de ser vendido aquele Ep, música e palavras que marcaram a luta contra a ditadura de Salazar/Caetano.

Uma mensagem dura e crua, uma canção daqueles tempos mas também de todos os tempos. 

Hoje, por exemplo.

Viriato Teles em  As Voltas de Um Andarilho salienta que Os Vampiros é o primeiro tema vincadamente político de José Afonso mas admite, citando alguns companheiros de então, que não terá sido uma intenção social.

José Afonso sobre isso, disse que «a música é comprometida quando o músico, como cidadão, é um homem comprometido. Não é o produto saído do cantor que define esse compromisso mas o conjunto de circunstâncias que o envolvem histórico e político que se vive e as pessoas com quem ele priva e com quem ele canta.

 Foi o  tempo em que nos jornais, para que a coronelada-censória-analfabeta não topasse assim tão de repente, o nome do José Afonso era assim escrito:

                                        osnofAèsoJ

Urbano Tavares Rodrigues e o texto que escreveu, em 1968, para ser publicado no LP Cantares do Andarilho:

«A noite das lágrimas e da raiva. A madrugada das carícias e do sorriso. O dia claro da festa colectiva. Tudo isso se encontra na poesia cantada de  José Afonso, cantada por José Afonso. A luminosa gargalhada do povo, o seu suor de sangue nas noras de esforço ingrato e de absurda expiação. O lirismo primaveril e feminino das bailias que não morreram. E o orvalho da esperança. E os ecos de um grande coro de fraternidade sonhada e assumida. José Afonso, trovador, é o mais puro veio de água que torna o presente em futuro, que à tradição arranca a chama do amanhã. No tumulto da contestação, na marcha de mãos dadas, com flores entre os lábios, é ele a figura de proa, o arauto, o aedo, o humilde, o múltiplo, o doce, o soberbo cantador da revolta e da bonança. Singelo José Afonso do Algarve doirado, dos barcos de vela panda, do Alentejo infinito sem redenção, dos pinhais da melancolia, dos amores sem medida, do sabor de ser irmão. José Afonso é a primeira voz da massa que avança em lume de vaga, é a mais alta crista e a mais terna faúlha de luar na praia cólera da poesia, da balada nova».

 

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