domingo, 11 de fevereiro de 2024

VIAGENS POR ABRIL


 

                 Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                 João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

O mais certo é nunca virmos a conhecer o número exacto e a identidade de todas as mulheres presas por motivos políticos durante os 48 anos da ditadura fascista.

É possível dizer que estiveram presas pela PIDE 1755 mulheres.

Neste importante livro, Elas Estiveram Nas Prisões do Fascismo, editado pela URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses e é dedicado «A todas as mulheres portuguesas que, em tempos de medo, silêncio e opressão, contribuíram com apalavras e actos de resistência para construir o nosso caminho solidário para a liberdade e a democracia.»

O livro contém diversos poemas. Escolhemos o poema Pátria de Sophia de Mello Breyner Andresen que pertence ao Livro Sexto editado em 1962:

 

Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

— Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo

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