Ninguém escreve a ninguém. Gabriel Garcia Marquez, por outros motivos, deixou isso num livro que metia um coronel pelo meio. Ninguém escreve a ninguém. Abre-se a caixa do correio e encontramos o vazio, ou os folhetos de propaganda, disto e daquilo, a conta do telefone, o professor Fofana, especialista em amor e trabalhos ocultos, a dizer-nos para o contactar, o extracto bancário a mostrar – era necessário? – que cada vez temos lá menos dinheiro. Já não se escrevem cartas como antigamente. Os amigos foram para longe e já não escrevem. Os amigos que estão perto preferem os abraços e os beijos pelo telemóvel. Num qualquer Natal as operadoras portuguesas processaram 195,5 milhões de mensagens escritas. A dizerem o quê? Who knows!...Por ele gosta de palavras desenhadas no papel. Deixámos de comunicar apesar de passarmos horas ao telemóvel. Já ninguém sabe onde está o marco do correio da rua onde vive. Tudo isto acaba no mundo de silêncio que de repente nos envolve e não sabemos como veio, como aconteceu. Acredita que para se escrever isto que vai dizendo é necessário uma grande dose de ingenuidade. Que seja! Como escrever num SMS o silêncio que se esconde. Há um tempo moroso e dele surgem cidades e embora daí nada venha ,fica o esforço de se escreverem as palavras que ocorrem, que se socorrem umas às outras, algo que poderia ser assim: há um barco que encalha no meio do rio. Daí sobe a maresia, o espumar encarneirado, reflexos do sol que rói as nuvens. Há uma náusea, um torpor no meio do rio. As cordas estendidas como braços para a tua margem. E lá para o fim da tarde, não direi amigo antes de chegar a noite anódina e vagamente prestável. Porque do molhe não me ouvem, o silêncio morde-me os pulsos. O Sol esquiva-se. Sou eu que de mãos tensas torço o barco a aportar meigamente. Nisto se perde o tempo. É a nostalgia.
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