Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
Mais tarde ou mais cedo, estas
Viagens chegariam a Adriano Correia de Oliveira.
Todos os países esquecem gente.
Uns mais do que outros.
Certamente o nosso é dos que mais esquece.
Adriano Correia de Oliveira morreu no dia 16 de Outubro 1982.
Nas efemérides redondas aparecem sempre os elogios e as carpideiras.
O resto dos tempos é um enorme e angustiante silêncio.
A saudade é um luto, a memória um tempo que passa e sempre alguém que diz não.
Adriano foi o mais autêntico intérprete de um país que esteve em
guerra, um país votado ao abandono, à miséria, à frustração, mas um país onde as
suas gentes, num canto qualquer do seu ser, cuidaram de guardar um naco de
esperança.
Abril concretizou essa esperança.
Durou pouco, mesmo muito pouco.
Ao longo dos anos têm-nos sonegado essa esperança.
Hoje, claramente, sabemo-lo.
Há homens que morrem e continuam a viver.
Adriano Correia de Oliveira é um desses homens.
Claro que, possivelmente pouco ou nada dirá às novas gerações, mas diz
muito àqueles que o ouviram cantar em tempos dificílimos, em tempos
em que ele conseguiu ser um farol de esperança para o futuro com que
sonhávamos.
O Adriano, ao longo do seu curto tempo de vida, sempre foi
desrespeitado e explorado por uma série de gente. Lembro-me quando quis fazer
um single e a editora torceu o nariz, lembro-me de na Festa do Avante, após s
sua morte, colocarem um auditório com o seu nome, mas percorro os programas das
diversas Festas do Avante e verifico que lhe deram sempre os horários menos nobres,
os palcos mais escondidos. Sabiam que o Adriano nada recusava, nunca se negava
a ir onde ele entendesse que devia estar presente. Lembro-me daquele
espectáculo, no Coliseu, de solidariedade para com os trabalhadores da ANOP, em
que não o deixaram actuar porque disseram que «estava com os copos».
Mesmo o Partido a que sempre pertenceu, rodeou-o de silêncios infames, ele que, segundo Fausto, «foi o melhor de todos nós».
A ilustração musical que escolhemos para esta evocação de Adriano
Correi de Oliveira é Pensamento.
Canção com poema de Manuel Alegre e música de Adriano Correi de
Oliveira e António Portugal.
Está incluído no EP Trova do Vento Que Passa editado pela Orfeu
em 1963
Adriano Correia de Oliveira é acompanhado
à guitarra por António Portugal e à viola por Rui Pato.
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