sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

O OUTRO LADO DAS CAPAS


 Existem 100 maneiras de fazer bacalhau e estou muito longe de as ter comido, tão pouco de as conhecer.

 E se eu gosto de bacalhau!

Guardo da infância-quase-adolescência a imagem do estuário do Tejo, frente  à Praça do Império, pejado de lugres bacalhoeiros, embandeirados em arco, aguardando a partida para a Terra Nova e Gronelândia.

Porque foi de Belém que partiram as armadas em demanda de novas terras e o regime pretendia que a faina bacalhoeira fosse a epopeia desses dias.

Acontecia por princípios de Abril e coincidia quase sempre com o tempo de Páscoa.

As muralhas pejavam-se de gente, na sua maioria famílias dos pescadores.

Os pescadores nos seus dóris vinham dos barcos até à margem para assistirem, aos actos religiosos que se realizavam no Mosteiro dos Jerónimos.

Após a cerimónia, dois pescadores deslocavam-se a São Bento, onde Salazar os recebia Conselho, e  em nome de todos os outros trabalhadores, apresentavam cumprimentos de despedida.

 Os jornais testemunhavam, então, que Salazar recebia-os com muita simpatia, demorava-se alguns minutos a conversar com os pescadores e desejava-lhes boa viagem e boa pesca.

Brindava-se com Vinho do Porto, comiam-se amêndoas.

Neste livro sobre bacalhau, uma biografia do peixe que mudou o mundo, há uma receita de caldeirada apresentada por Daniel Webster:

Também uma frase de Alain Senderens, um chefe parisiense:

«É tão belo, o bacalhau, a forma como a sua carne se abre em lascas brancas!»

E, para terminar, um provérbio cubano:

«Conheço-te, bacalhau, mesmo que venhas disfarçado».

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