conheci uma vez um homem entusiasmado.
era domingo, vinha do futebol e o
barreirense tinha ganho.
a meu lado, numa tasca feia e suja, bebia e
dizia:
«hei-de dar uma bicicleta ao meu filho
levá-lo a treinar ao clube
talvez que com um toque do sampaio ele fique
nos juvenis um
púcaro de três e aqui mais um para este meu amigo»
eu, calado, na expectativa do que o homem
entusiasmado bebia
e sonhava:
«amanhã vou ao chefe e peço-lhe aumento falo-lhe da renda da
casa do meu filho no clube
ele será do barreirense? não
me lembro tenho de perguntar ao sampaio ó
manel traga mais
três copos aqui para nós que eu pago»
o outro que também tinha sido contemplado
desta vez, piscou-me
o olho e deu duas pancadas encorajantes no
homem entusias
mado, que bebia e vivia:
«e vou mudar de casa vou para lisboa é mais perto do meu
emprego e não preciso de andar de barco e de
me levantar tão
cedo vou já à procura de casa»
no dia seguinte, li no jornal que um homem possivelmente
bê-
bado, se tinha atirado para o mar junto ao
barreiro deixando
na desgraça a mulher e um filho ainda em
idade escolar.
morreu. entusiasmado.
Luís Paixão Martins
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