terça-feira, 16 de outubro de 2018

OLHAR AS CAPAS



Léo Ferré

Léo Ferré
Selecção e tradução dos poemas, canções: Luiza Neto Jorge
Selecção e tradução de outros textos: Manuel João Gomes
Capa: Judite Cília
Ulmeiro, Lisboa, Março de 1984

Os Artistas

Eles são de uma outra raça mas não sabem que o são
Eles são de um outro clã mas convivem convosco
Eles dão-nos o seu braço e estendem-vos a mão
Vós deixai-los passar não têm a ver convosco
Eles são a manhã clara nas vossas noites surdas
Eles são aquele sol negro dos vossos estios d’ inverno
Eles cantam pela noite às vossas têmp’ras mudas
Eles plantam a Loucura no seio do vosso inferno

Eles pintam o desgosto na face da papoila
Eles escrevem o amor nos quartos nus gelados
Eles enrolam o tempo sob a asa d’uma rola
Eles insuflam a vida nos pactos já quebrados
Eles dão a lei futura ao qu’à d’ontem apela
Eles decidem de tudo se à rédea os quer o esperto
Vinte mil anos há qu’eles se mostram à janela
Vinte mil anos há qu’eles clamam no deserto

Eles são de uma outra raça mas não sabem que o são
Eles são de um outro clã mas convivem convosco
Eles dão-vos o seu braço e estendem-vos a mão
Vós deixai-los passar não têm a ver convosco
Vinte mil anos há qu’entram pelos olhos dentro
Vinte mil anos há que passas sem vê-los
Vinte mil anos há que tu bem querias vê-los
E quando os visses tu já não te viam eles

São gente doutras bandas

Os artistas

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