«A polícia não pode meter na prisão todas as pessoas de quem desconfia.
Aliás, o regime fascista encontrou uma boa maneira de resolver esse problema.
Caxias é apenas uma prisão dentro doutra prisão maior, que é o país. É prático,
como se vê. Em geral, os suspeitos circulam à vontade dentro da prisão maior;
quando se tornam perigosos, passam para as prisões mais pequenas: Caxias,
Peniche e outros lugares menos conhecidos.»
José Saramago em Manual de Pintura e Caligrafia.
Manual de Pintura e Caligrafia é o segundo romance de Saramago e, diga-se: passou completamente ao lado da crítica e do público leitor.
Mesmo depois de reeditado, não conseguiu furar esses muros
de silêncio.
Saramago considerou-o o mais autobiográfico dos seus livros.
«O Manual de Pintura e Caligrafia é uma obra ímpar no género da literatura autobiográfica entre nós e oferece-nos, no seu conjunto, um semental de ideias e uma carta de rumos da ficção de José Saramago até à data.Nele se fundem as escritas de uma complexa e rica tradição literária e a experiência de um tempo vivido nos logros do quotidiano e das vicissitudes da história, que será a substância da própria arte.»
Saramago considerou-o o mais autobiográfico dos seus livros.
«O Manual de Pintura e Caligrafia é uma obra ímpar no género da literatura autobiográfica entre nós e oferece-nos, no seu conjunto, um semental de ideias e uma carta de rumos da ficção de José Saramago até à data.Nele se fundem as escritas de uma complexa e rica tradição literária e a experiência de um tempo vivido nos logros do quotidiano e das vicissitudes da história, que será a substância da própria arte.»
Luís de Sousa Rebelo no prefácio à 2ª edição de Manual de Pintura e Caligrafia.
Desde a leitura das primeiras páginas, fiquei seduzido e
sempre perdido na sua nada fácil leitura.
Manual?
Um exercício de escrita?
Um exercício de escrita?
Um pintor que escreve?
Um escritor que pinta?
«Observo-me a
escrever como nunca me observei a pintar.»
Dirá ainda:
«Poderei escrever
sempre, até ao fim da vida.»
Começa nestas páginas o estilo que Saramago aperfeiçoará constantemente ao longo da sua obra.
«Que quero eu?
Primeiramente, não ser derrotado. Depois, se possível, vencer.»
E quase definitivo:
«Não sou já, não sou ainda, não sei que serei.»
Volta e meia
regresso ao labirinto da sua leitura.
Para (re)encontrar
gestos de homem-simples-observador, como este:
«O rico nunca vê, nunca repara, apenas olha, e acende os cigarros com o ar de quem esperaria que já viessem acesos: o rico acende o cigarro ofendido, isto é, o rico acende ofendido o cigarro, porque não há, ali, acaso, ninguém que lho acenda.»
Legenda: capa de Manual
de Pintura e Caligrafia publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa
é da autoria de Júlio Pomar.
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