sexta-feira, 26 de outubro de 2018

MAS É MELHOR DO QUE ESTAR MORTO


Entramos hoje na entrevista que Luiz Pacheco deu a Paula Moura Pinheiro e publicada no Já, Julho de 1996, compilada em O Crocodilo Que Voa.

É hipocondríaco? Anda há quarenta anos a ameaçar que morre e afinal está a enterrar todos os outros.

Deixe-os ir. Os que vão á minha frente vão todos bem. Há uns anos o Saramago teve uma pataleta e eu liguei-lhe logo: «Tu não te deixes morrer que ainda temos de ir juntos ao funeral do Pires.» Há gente da minha idade que passa o tempo nos médicos, nos exames, nas análises. Eu devo ter dez doenças mortais mas só me apanham lá em último caso. E você não faz ideia das noites que eu passo aqui. É assim: adormeço por volta das oito horas, porque tomo um remédio. Durmo duas horas. Depois acordo. O remédio é diurético e eu tenho de urinar de duas em duas horas e de tomar de seis em seis dias. E é assim toda a noite. Foi assim toda a vida. Tive o meu primeiro ataque de asma quando tinha três meses. Mas sempre é melhor do que estar morto.

Porque é que finalmente se filiou no PCP?

Antes de 74 eu admirava o partido, mas sempre soube que não era talhado para guardar segredos. Não queria que me arrancassem as unhas ou me dessem bofetadas. Agora é diferente. E essa história de que o comunismo está acabado é mentira. Tenho gosto em estar no PCP, é uma coisa platónica.

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