Espião Na Primeira Pessoa
Sam Shepard
Tradução: Salvato
Telles de Menezes
Capa: Teresa Reis
Gomes
Quetzal Editores, Lisboa,
Agosto de 2018
Fizeram-me todos os exames. Lá no meio do deserto. Do deserto pintado.
Terra de apaches. Terra de saguaros. Fizeram-me análises ao sangue, é claro.
Todos os tipos de análises ao sangue para analisar os meus glóbulos brancos,
para analisar os meus glóbulos vermelhos, analisando-os uns em oposição aos
outros. Depois fizeram exames à minha espinal medula. Até me fizeram uma punção
lombar. Fizeram-me várias ressonâncias magnéticas. Tubos pelos quais era
possível olhar para todo o meu corpo para ver se havia qualquer paralisia de
ossos e músculos. Amostras, cortes transversais. Raios X. Imagens
fantasmáticas. E observaram a deterioração e observaram todo o tipo de coisas e
não conseguiram apresentar nenhuma resposta até que apareceu por fim um tipo,
creio que era um neurocirurgião, tinha cabelo preto e uma bata branca e óculos,
electrochoques de sondagem com uma vara metálica. Injetou-os em ambos os braços
e uma corrente eléctrica começou a pulsar e senti esses choques nos meus
braços. Foi ele que apresentou a resposta de que havia alguma coisa que não
estava bem. E eu disse, bom, eu sei que alguma coisa não está bem. Porque acha
que estou aqui? Limitou-se a olhar para mim com uma expressão vazia.
De manhã ia tomar o pequeno-almoço a uma tasca mexicana. Enchiladas. Queijo com ovos. Pimentos verdes.
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