«Foi o Doutor Viegas que me salvou, dirão os cépticos;
foi Deus que, por intermédio dele, não quis que eu morresse já, dirão os
crentes; ainda não era a minha hora, dirão os fatalistas. Todos temos razão,
afinal. Eu fui salva quando me perdia.»
José Saramago em
Terra do Pecado.
Terra do Pecado foi o primeiro romance publicado por José Saramago.
Em entrevista
ao Independente, 17 de Maio de 1991,
conta a história desse seu primeiro livro:
«Escrevi o meu primeiro livro aos 25 anos, em 1947. Chamava-se a Viúva. Foi publicado pela Minerva,
mas o editor achou que "a viúva" não era um título comercial e sugeriu
que se chamasse Terra do Pecado.
Pobre de mim, queria era ver o livro editado e assim saiu. De pecados sabia
muito pouco e, embora a história comporte alguma actividade pecaminosa, não
eram coisas vividas, eram coisas que resultavam mais das leituras feitas do que
duma experiência própria. Não incluo na minha bibliografia, apesar de os meus
amigos insistirem que não é tão mau como eu teimo em dizer. Mas como o título
não foi meu e detesto aquele título... Acho que é por isso que resisto a
aceitá-lo. Um dia, quem sabe se não reconhecerei a paternidade uma vez que há
por aí exemplares. Ainda outro dia encontrei um, numa dessas bancas em segunda
mão, e paguei por ele oito contos. Com desconto, porque o homem reconheceu-me e
abateu-me quinhentos escudos. Um preço completamente disparatado e
exorbitante.»
Já numa entrevista ao
Jornal de Notícias, 10 de Novembro de 1966, conduzida por Serafim
Ferreira, se referia a Terra do Pecado:
- Os Poemas Possíveis é o seu primeiro livro, mas certamente não será o último: diga-nos, pois, quais os seus projectos literários a realizar em breve?
- Os Poemas Possíveis não é o meu primeiro livro. Vai para 20 anos publiquei um mau romance que acabou, sem glória, ao lado de muita coisa boa, nos tabuleiros. Ganhou assim uma difusão que doutra maneira não teria… É que o negócio dos arrematadores, para que fosse suficientemente rentável, uma “distribuição” tão eficiente que chegasse à mais escondida das nossas aldeias. Quero crer que não ficou um livro por vender.
Quanto a projectos, não os tenho, pelo menos a curto prazo. Continuarei a escrever, ao sabor dos meus “choques”. Outros livros? É possível. Tudo é possível. E quem sabe se um segundo livro de poemas não virá a ter o verlainiano título de Provavelmente?
Nos Diálogos Com Saramago, de Carlos Reis, a propósito de Terra do Pecado, Saramago diz:
«Como eu tenho um livro que publiquei( ou melhor: publicaram-mo) ,a conclusão parece fácil: este senhor preparou-se para escritor muito cedo. Mas (questão que há que deixar muito clara) acontece que eu não me preparei: aquele senhor escreveu aquele livro, mas não com a consciência de que se tinha preparado para ser escritor. Aquele livro resulta do seguimento de leituras mal arrumadas e mal organizadas – e saiu aquilo. Há quem diga que o livro, apesar de tudo, não é assim tão mau e que está correctamente escrito. E eu tenho a impressão de que sim.»
Durante muitos anos, Saramago não permitiu que Terra do Pecado fizesse parte da sua bibliografia.
Mas em 1997, passados 50 anos sobre a sua publicação, e correspondendo a insistentes pedidos do seu editor, permite uma nova edição do livro.
Fernando Venâncio, um crítico que não morre de amores pela obra de José Saramago, ou por José Saramago ele próprio, publicou no JL de 2 de Março de 1997, uma crítica a que deu o título «Moço Promissor» e que, a terminar, diz assim:
«Terra do Pecado um fiasco? Bem longe disso. Antes e depois de 1947, escreveram-se entre nós romances muitos pontos abaixo deste. A primeira obra de José Saramago pode ser ainda pouco “saramaguina”. Mas é um livro profundamente saudável, que não envergonharia ninguém.»
- Os Poemas Possíveis é o seu primeiro livro, mas certamente não será o último: diga-nos, pois, quais os seus projectos literários a realizar em breve?
- Os Poemas Possíveis não é o meu primeiro livro. Vai para 20 anos publiquei um mau romance que acabou, sem glória, ao lado de muita coisa boa, nos tabuleiros. Ganhou assim uma difusão que doutra maneira não teria… É que o negócio dos arrematadores, para que fosse suficientemente rentável, uma “distribuição” tão eficiente que chegasse à mais escondida das nossas aldeias. Quero crer que não ficou um livro por vender.
Quanto a projectos, não os tenho, pelo menos a curto prazo. Continuarei a escrever, ao sabor dos meus “choques”. Outros livros? É possível. Tudo é possível. E quem sabe se um segundo livro de poemas não virá a ter o verlainiano título de Provavelmente?
Nos Diálogos Com Saramago, de Carlos Reis, a propósito de Terra do Pecado, Saramago diz:
«Como eu tenho um livro que publiquei( ou melhor: publicaram-mo) ,a conclusão parece fácil: este senhor preparou-se para escritor muito cedo. Mas (questão que há que deixar muito clara) acontece que eu não me preparei: aquele senhor escreveu aquele livro, mas não com a consciência de que se tinha preparado para ser escritor. Aquele livro resulta do seguimento de leituras mal arrumadas e mal organizadas – e saiu aquilo. Há quem diga que o livro, apesar de tudo, não é assim tão mau e que está correctamente escrito. E eu tenho a impressão de que sim.»
Durante muitos anos, Saramago não permitiu que Terra do Pecado fizesse parte da sua bibliografia.
Mas em 1997, passados 50 anos sobre a sua publicação, e correspondendo a insistentes pedidos do seu editor, permite uma nova edição do livro.
Fernando Venâncio, um crítico que não morre de amores pela obra de José Saramago, ou por José Saramago ele próprio, publicou no JL de 2 de Março de 1997, uma crítica a que deu o título «Moço Promissor» e que, a terminar, diz assim:
«Terra do Pecado um fiasco? Bem longe disso. Antes e depois de 1947, escreveram-se entre nós romances muitos pontos abaixo deste. A primeira obra de José Saramago pode ser ainda pouco “saramaguina”. Mas é um livro profundamente saudável, que não envergonharia ninguém.»
Legenda: capa de Terra do Pecado publicado pela Porto
Editora.
A caligrafia da capa
é da autoria do escritor José Luís Peixoto.
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