«Uma leitora na Feira: «Para o ano que vem teremos mais Cadernos?»
Respondo medievalmente como de costume: «Vida havendo e saúde não faltando…» E
ela: «É que quero ler neles a notícia do Prémio Nobel…» Ponho a cara de sempre,
sorriso contrafeito, tonto e de pouco caso, agradeço a gentileza do voto, e
passo a assinar o livro que o leitor seguinte me apresenta. «Eu também…», diz
este, que ouviu a rápida troca de palavras. Desta vez fico sem saber que
sorriso pôr. O terceiro leitor, felizmente, é dos calados,»
José Saramago em Cadernos de Lanzarote Volume III
Desde Lanzarote,
terceiro volume do «contar os dias pelos
dedos e encontrar a mão cheia.»
O ano é o de 1995 e
logo nos primeiros dias regista a morte de Miguel Torga:
«Sempre se morre demasiado cedo.»
Miguel Torga morreu
com 87 anos.
«Compreendo agora quanto gostaria de tê-lo conhecido. Demasiado tarde.»
Preste o ano a findar,
outra morte: a de Fernando Assis Pacheco.
«Não éramos amigos o que se chama amigos, mas havia ente nós relações
muitos cordiais, de simpatia e respeito mútuos, e a admiração que sentia por
ele não a sinto por muitos. Morreu daquele coração que desde há muitos anos o
vinha ameaçando. Morreu numa livraria, provavelmente o lugar que ele próprio
teria escolhido para quando tivesse de sair da vida.»
Legenda: capa de Cadernos
de Lanzarote Volume III publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa
é da autoria de José Carlos de Vasconcelos.
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