segunda-feira, 29 de outubro de 2018

SARAMAGUEANDO



«Uma leitora na Feira: «Para o ano que vem teremos mais Cadernos?» Respondo medievalmente como de costume: «Vida havendo e saúde não faltando…» E ela: «É que quero ler neles a notícia do Prémio Nobel…» Ponho a cara de sempre, sorriso contrafeito, tonto e de pouco caso, agradeço a gentileza do voto, e passo a assinar o livro que o leitor seguinte me apresenta. «Eu também…», diz este, que ouviu a rápida troca de palavras. Desta vez fico sem saber que sorriso pôr. O terceiro leitor, felizmente, é dos calados,»

José Saramago em Cadernos de Lanzarote Volume III


Desde Lanzarote, terceiro volume do «contar os dias pelos dedos e encontrar a mão cheia.»

O ano é o de 1995 e logo nos primeiros dias regista a morte de Miguel Torga:

«Sempre se morre demasiado cedo.»

Miguel Torga morreu com 87 anos.

«Compreendo agora quanto gostaria de tê-lo conhecido. Demasiado tarde.»

Preste o ano a findar, outra morte: a de Fernando Assis Pacheco.

«Não éramos amigos o que se chama amigos, mas havia ente nós relações muitos cordiais, de simpatia e respeito mútuos, e a admiração que sentia por ele não a sinto por muitos. Morreu daquele coração que desde há muitos anos o vinha ameaçando. Morreu numa livraria, provavelmente o lugar que ele próprio teria escolhido para quando tivesse de sair da vida.»

Legenda: capa de Cadernos de Lanzarote Volume III publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de  José Carlos de Vasconcelos.

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