«Um homem sossegado,
alguém que se sentou na margem do rio a ver passar o que o rio leva, talvez à
espera de se ver passar a si próprio na corrente...»
José Saramago em O Ano da Morte de Ricardo Reis
José Saramago chega a
O Ano da Morte de Ricardo Reis para
resolver uma questão entre ele e o heterónimo de Pessoa.
Ricardo Reis foi o
«primeiro» Fernando Pessoa que conheceu, tinha 18 anos quando leu as «Odes». Quiçá ficou-lhe um verso a bulir
por dentro: «Sábio é o que se contenta
com o espectáculo do mundo», certamente há-de dar uma história, não sabe
bem como, quando, mas é a velha conversa, que ele muito conta, encontrar uma
pedra, levantá-la, saber o que está por baixo.
«O livro de que mais gosto, aquele que está mais dentro de mim, é o Ano
da Morte de Ricardo Reis.»
Saramago fala em
emoção e numa entrevista ao Expresso
resumiu:
«É um livro sobre a solidão, triste, sobre uma cidade triste, sobre um
tempo triste. Em 1936, eu tinha 14 anos, mas lembro-me da tristeza que ear essa
cidade e, sem abusar das comparações, talvez os leitores de hoje, nesta cidade
de hoje, sejam capazes de encontrar algumas outras manifestações de tristeza e
solidão.»
Também o Portugal de
Salazar, com a PVDE, futura PIDE, a chamar Ricardo Reis à António Maria Cardoso
nem eles sabem bem ou mal para quê,.. e Fátima com o 13 de Maio na Cova da Iria…
«Eu há muito digo que todos livros, e já agora em particular os meus,
deviam levar uma cinta com estas palavras: atenção, este livro leva uma pessoa
dentro. É isto, no fundo: os meus leitores encontram nos meus livros a pessoa
que sou e gostam.»
E o que eu gosto
deste livro de Saramago.
Desde 3 de Janeiro que nos anda a fazer companhia nas Leituras.
Desde 3 de Janeiro que nos anda a fazer companhia nas Leituras.
«Aqui o mar acaba e a terra principia» são palavras primeiras, «Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera»,
são palavras finais.
De tanto o (re)ler, na
edição da Caminho, o começou a desfazer-se, e tive de correr à Pó dos Livros – já não existe!... Hélas!..- e comprar a edição da Leya, uma capa
horrorosa, tão longe, tão longe, do bom gosto das capas amarelas da Caminho.
Raios os partam!
Jorge Listopad quando
leu O Ano da Morte de Ricardo Reis
não teve qualquer dúvida:
«… notável, poderoso e pungente, o último romance de José Saramago, O
Ano da Morte de Ricardo Reis.»
Legenda: capa de O Ano da Morte de Ricardo Reis publicado
pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de Carlos Reis.
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