segunda-feira, 22 de outubro de 2018

SARAMAGUEANDO



«Um homem sossegado, alguém que se sentou na margem do rio a ver passar o que o rio leva, talvez à espera de se ver passar a si próprio na corrente...»


José Saramago chega a O Ano da Morte de Ricardo Reis para resolver uma questão entre ele e o heterónimo de Pessoa.

Ricardo Reis foi o «primeiro» Fernando Pessoa que conheceu, tinha 18 anos quando leu as «Odes». Quiçá ficou-lhe um verso a bulir por dentro: «Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo», certamente há-de dar uma história, não sabe bem como, quando, mas é a velha conversa, que ele muito conta, encontrar uma pedra, levantá-la, saber o que está por baixo.

«O livro de que mais gosto, aquele que está mais dentro de mim, é o Ano da Morte de Ricardo Reis.»

Saramago fala em emoção e numa entrevista ao Expresso resumiu:

«É um livro sobre a solidão, triste, sobre uma cidade triste, sobre um tempo triste. Em 1936, eu tinha 14 anos, mas lembro-me da tristeza que ear essa cidade e, sem abusar das comparações, talvez os leitores de hoje, nesta cidade de hoje, sejam capazes de encontrar algumas outras manifestações de tristeza e solidão.»

Também o Portugal de Salazar, com a PVDE, futura PIDE, a chamar Ricardo Reis à António Maria Cardoso nem eles sabem bem ou mal para quê,.. e Fátima com o 13 de Maio na Cova da Iria…

«Eu há muito digo que todos livros, e já agora em particular os meus, deviam levar uma cinta com estas palavras: atenção, este livro leva uma pessoa dentro. É isto, no fundo: os meus leitores encontram nos meus livros a pessoa que sou e gostam.»

E o que eu gosto deste livro de Saramago.

Desde 3 de Janeiro que nos anda a fazer companhia nas Leituras. 

«Aqui o mar acaba e a terra principia» são palavras primeiras, «Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera», são palavras finais.

De tanto o (re)ler, na edição da Caminho, o começou a desfazer-se,  e tive de correr à Pó dos Livros – já não existe!... Hélas!..-  e comprar a edição da Leya, uma capa horrorosa, tão longe, tão longe, do bom gosto das capas amarelas da Caminho.

Raios os partam!

Jorge Listopad quando leu O Ano da Morte de Ricardo Reis não teve qualquer dúvida:
«… notável, poderoso e pungente, o último romance de José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis.»

Legenda: capa de O Ano da Morte de Ricardo Reis publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da autoria de Carlos Reis.

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