«Deixe que me despeça com um beijo, está a chegar o tempo deles, Para mim já vai tardando, Só uma pergunta mais, Diga, Já começou a escrever a História do Cerco de Lisboa, Já, Não sei se continuaria a gostar de si se me respondesse que não, adeus.»
José Saramago em História do Cerco de Lisboa
«Tenho a impressão que aquilo que em mim podia ser
poético está nos romances.»
É uma frase
perdida nas muitas e muitas entrevistas que Saramago deu.
Uma outra:
«Considero difícil escrever um romance sem lhe meter
uma história de amor, mesmo que se trate de amores infelizes. Sempre terá que
haver um homem e uma mulher e neste livro a história de amor empurrou a
história da guerra.»
Podemos dizer que História do
Cerco de Lisboa é um livro de História, mas, no fundo dos fundos, é um romance de amor.
No tempo da sua publicação, José Carlos de
Vasconcelos não tem dúvidas em considerar a História do Cerco de Lisboa como
o melhor romance de Saramago:
«O de mais
notável construção, simultaneamente o mais inventivo e o mais equilibrado, o de
maior riqueza e até complexidade de planos, que se vão sucedendo, entrelaçando
ou quase sobrepondo, apesar de oito séculos de história os separar, e ao mesmo
tempo o mais límpido até na escrita.»
É a história de um homem, Raimundo Silva de seu nome, que
está a rever um livro que se chama História do Cerco de Lisboa.
Intencionalmente apõe um não a um texto histórico sobre o cerco de D. Afonso Henriques a Lisboa.
«Está como fascinado, lê, relê, torna a ler a mesma
linha, esta que de cada vez redondamente afirma que os cruzados ajudarão os
portugueses a tomar Lisboa.
(…)
É evidente que acabou de tomar uma decisão, e que má
ela foi, com a mão firme segura a esferográfica e acrescenta uma palavra à
página, uma palavra que o historiador não escreveu, que em nome da verdade
histórica não poderia ter escrito nunca, a palavra Não, agora o que o livro
passou a dizer é que os cruzados Não auxiliarão os portugueses a tomar Lisboa,
assim está escrito e portanto passou a ser verdade, ainda que diferente.»
O erro é descoberto, publica-se a obra com uma errata e
os directores da editora chamam Raimundo à pedra dizendo-lhe que semelhante
coisa não poderá voltar a acontecer sob pena de prescindirem dos seus serviços de
revisor.
Maria Sara, responsável da editora pelos revisores,
presente na reunião mas que nada disse, chama Raimundo Silva ao seu gabinete e
entrega-lhe um exemplar do livro sem a errata. E a partir do voluntário erro
incita-o a escrever a reinvenção da história do cerco de Lisboa.
O amor irrompe entre Sara e Raimundo, razão para a citação que está no topo do texto e que se repete:
«Deixe que me despeça com um beijo, está a chegar o tempo deles, Para mim já vai tardando, Só uma pergunta mais, Diga, Já começou a escrever a História do Cerco de Lisboa, Já, Não sei se continuaria a gostar de si se me respondesse que não, adeus.»
O amor irrompe entre Sara e Raimundo, razão para a citação que está no topo do texto e que se repete:
«Deixe que me despeça com um beijo, está a chegar o tempo deles, Para mim já vai tardando, Só uma pergunta mais, Diga, Já começou a escrever a História do Cerco de Lisboa, Já, Não sei se continuaria a gostar de si se me respondesse que não, adeus.»
Legenda: capa de História
do Cerco de Lisboa publicado pela Porto Editora. A caligrafia da capa é da
autoria de Álvaro Siza Vieira.
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