Mário Castrim e
o seu Do Livro dos Salmos substitui José Luandino Vieira e o seu Papéis da Prisão nas leituras e transcrições que por aqui vamos fazendo.
Este livro do
Castrim nasce da colaboração que manteve com os Missionários Comboianos, para a
revista Audácia. A morte não permitiu que assistisse à publicação deste bonito
livro «dedicado a todos os seus amigos comboianos.»
Os desenhos de
Rogério Ribeiro tornam o livro ainda mais cativante.
Mário Castrim
era católico.
Disse um dia:
Que é ser católico? Ir todos os domingos à missa?
Confessar-se? Gostar de João Paulo? Não, isso não serei. Se é ser católico dar,
como Cristo, prioridade aos pobres, aos oprimidos, aos injustiçados; se é estar
como Cristo a combater a riqueza indevida, a hipocrisia e o poder do dinheiro; se
é amar a Terra para melhor merecer o céu, então católico fui, sou e serei.
Olhe, o comunista é aquele que deixou de acreditar na eternidade para acreditar no futuro. O comunista é um cristão para uso quotidiano.
Olhe, o comunista é aquele que deixou de acreditar na eternidade para acreditar no futuro. O comunista é um cristão para uso quotidiano.
O Padre Manuel
Augusto, Director da Revista Além-Mar e sacerdote comboniano afirma que este
livro «é o grito de uma pessoa que procura, se confronta com Deus, reconhece e
invoca a sua presença”. Por isso indica, ser um livro destinado a todas as
pessoas que fazem uma procura de Deus, a partir dos conflitos normais e dos
dramas da própria vida. Na redacção da publicação comboniana é recordado como
uma pessoa com um “grande entusiasmo pela vida em geral. Tudo o que acontecia
na vida merecia a apreciação lúcida e admirada do Mário, e ele colocava-o por
escrito nas suas crónicas, sem preconceitos nem moralismos. Para ele havia uma
regra essencial: a vida é harmonia, lealdade e respeito pelos inimigos”. “A
amizade para com os Missionários Combonianos surgiu naturalmente, porque também
ele alimentava o sonho de um mundo melhor, mais justo e fraterno. Ele era um
homem profundamente preocupado e comprometido com os pobres e deserdados do
mundo. Ouvia com enorme prazer todas as histórias dos missionários, e vivia a
sorte e as incertezas daqueles que se encontravam nos teatros de guerra e das
gentes que serviam».
Mário Castrim morreu
a 15 de Outubro de 2002.
Oito dias antes,
escreveu o seu último poema:
Lágrimas, não.
Lágrimas, não. A sério.
Enfim, não digo que. É natural.
Mas pronto. Adeus, prazer em conhecer-vos.
Filhos, sejamos práticos, sadios.
Enfim, não digo que. É natural.
Mas pronto. Adeus, prazer em conhecer-vos.
Filhos, sejamos práticos, sadios.
Nada de flores.
Rigorosamente.
Nem as velas, está bem? Se as acenderem,
sou homem para me levantar e vir
soprá-las, e cantar os "Parabéns".
Nem as velas, está bem? Se as acenderem,
sou homem para me levantar e vir
soprá-las, e cantar os "Parabéns".
Não falem baixo: é
tarde para segredos.
Conversem, mas de modo que eu também
oiça, e melhor a grande noite passe.
Conversem, mas de modo que eu também
oiça, e melhor a grande noite passe.
Peço pouco na hora
desprendida:
fique eu em vós apenas como se
tudo não fosse mais que um sonho bom.
fique eu em vós apenas como se
tudo não fosse mais que um sonho bom.
Deste ponto do hotel vê-se qualquer coisa
que logo desde o início se entendeu
não poder ser outra coisa além do Cabo da Roca.
Daqui donde estou se vê que o Cabo é
perfeitamenhte ocidental o mais
ocidental possível.
que logo desde o início se entendeu
não poder ser outra coisa além do Cabo da Roca.
Daqui donde estou se vê que o Cabo é
perfeitamenhte ocidental o mais
ocidental possível.
Mais do que ele, só os nossos olhos.
Eles, para quem a terra não acaba nunca.
Eles, que tocam o ponto exacto onde
um sol de fogo prova que ela é redonda.
Eles, que tocam o ponto exacto onde
um sol de fogo prova que ela é redonda.
A única diferença é o farol. Mas se fores tu
de noite a olhar o mar, os barcos
podem ir à confiança.
de noite a olhar o mar, os barcos
podem ir à confiança.
Sem comentários:
Enviar um comentário