O Rival
Roger Vailland
Tradução: António
Neves-Pedro
Capa: Aramando Alves
Colecção Metamorfoses
nº 13
Editorial Inova,
Porto, Janeiro de 1975
- Tem entrevista marcada?
- Não.
- Então faça o favor de preencher uma ficha.
Mignot escreveu:
NOME: Fréderic Mignot
FINALIDADE DA VISITA: da parte de secção de Clusot do Partido
Comunista Francês.
- Faça a fineza de esperar um momento, - disse o contínuo, que depois
se dirigiu, coxeando, para escada.
Mignot teve a impressão que o velho lhe lançara um olhar espantado. Na
realidade, há muito que o velho era demasiado míope para ser capaz de ler,
mesmo quando punha os óculos: e era apenas isso que lhe dava aquele ar
assombrado.
- Mande entrar esse senhor imediatamente. – disse Letourneau, que ficou
à espera, com o coração a bater com força.
«Aí está a iniciativa misteriosamente anunciada ontem pela pequena
Amable», pensou ele. «Cumpriu a sua promessa». Estava disposto a fazer algo de
muito importante «introduzindo o inimigo na fortaleza». «Aqui está finalmente o
meu primeiro acto de coragem», disse para si mesmo.
Mignot preparara cuidadosamente toda uma série de argumentos para
persuadir Letourneau a petição para a libertação de… Mas Philippe dispôs-se a
assinar mesmo antes de ouvir uma única palavra.
«Então é apenas isto!» pensava ele. Chegara a temer que Pierrette
exigisse dele uma profissão de fé pública, como, por exemplo, ir ao domingo de
manhã, à saída da missa, vender, berrando o L’Humanité. Tivera receio de ser ridículo. Não que ele ligasse grande importância
à opinião que dele fariam os burgueses, e sabia até, pelo contrário, que os
seus amigos de Lyon ou de Paris teriam achado extremamente divertido que ele andasse a gritar L’Humanité pelas ruas de uma sede de concelho
provincial. Mas temia parecer ridículo aos olhos dos operários: «Não me saberia
comportar como eles, ficaria deslocado.»
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