Não são razoáveis
as fotografias que tirei a alguns murais que, após o 25 de Abril, apareceram na
cidade, apenas ficarão como um juntar de certas memórias.
Sentado no Expresso-Bar, gin-tónico na mão, o
Mário-Henrique Leiria dizia:
-Vê lá tu, que o Álvaro Guerra deixou de me
falar só porque não sou do partido dele!...
Com estrondo os
altos muros ruíram, olhámos o dia das surpresas.
Mas era
suficiente?
Pode-se ter
deixado de acreditar em coisas em que se acreditou?
E os escolhos dos muros que ruíram?
Miguel Torga, que
é escritor que nunca me provocou grandes entusiasmos, escreveu no seu Diário:
«Coimbra, 25 de Abril de 1974 – Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada…»
Passados estão 46
anos.
Demasiados erros,
demasiadas distracções, demasiadas ingenuidades, acabaram por mergulhar o país
num mar largo de clientelismo, de partilha do poder, de corrupção, do salve-se
quem puder…
Onde está o
dinheiro, onde está o raio do dinheiro?
Não lhe apetecia
nada rematar a prosasinha com a frase da Simone de Beauvoir, escritora que
também nunca lhe provocou grandes entusiasmos, mas aí vai:
«É horrível assistir à agonia de uma
esperança.»
A canção daqueles
tempos que hoje ouviremos, é trazida pelo Adriano Correia de Oliveira.
Faz parte do
álbum, «Cantaremos», editado em 1970.
Música do Adriano
para um poema do Fernando Assis Pacheco que nos fala das razões porque então
podíamos amar serenamente com tantos amigos na prisão.
«Não deveis enganar-vos: cada verso tem um
selo fraterno caminhando para a branca cidade sob o sol.», deixou o poeta escrito nas o páginas
interiores do álbum.
Legenda: o título é tirado de um poema de Egito
Gonçalves.
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