No dia 22 de Setembro,
palavras que antecedem um poema:
«Os filhos dos nossos filhos hão-de insultar-nos: «covardes! Que nos
deram um planeta sujo!»
Ao longo dos tempos,
tantos e tantos foram esses tempos, lançaram-se inúmeros avisos, sérios avisos,
de que estávamos a contaminar o planeta.
Os senhores
presidentes, os muitos Trumps e Bolsonaros, espalhados ao longo destes tempos
todos, assobiaram para o lado e nós continuámos a nossa vidinha.
Até que chegou o
tempo de um minúsculo e desconhecido vírus colocar o mundo em pantanas.
Um mundo que, quando
terminar este pesadelo – quando terminará? – não será o mesmo.
Começaremos da estaca
zero ou lá que estaca seja.
Um fascinante disco Pagani A Bobino é o registo ao vivo de
um espectáculo realizado em Paris no ano de 1976, e que Pagani repetiu em
diversas cidades, Lisboa incluída, 24 de Abril de 1980, no velho Coliseu dos
Recreios.
Vítima de uma
leucemia galopante, Herbert Pagani, tinha 44 anos, morreu a 16 de Agosto de 1988.
Na faixa Messieurs
Les Ptresidents, pode ouvir-se:
«Pelos pequenos regatos, cobertos de espuma branca, pelos pequenos
peixes, que nascem já cosidos, pelas florestas que os nossos jornais cortam em
tiras, pelo passarinho, que em vão procura o seu ninho e pelos nossos
telefones, sempre com três na linha, nós dois e depois um chui com os seus
auscultadores, e a nossa vida vivida que é posta de castigo dentro das tripas
de aço dos vossos ordenadores e por essas cruzes gamadas, surgidas dos anos 30,
que se vêem sobre os anúncios nos quiosques e nas estações, e por tudo o que
faz um certo grupo que tenta fazer pender à direita as jovens gerações, por
esses putos que lançam granadas, pelos que financiaram os seus campos de treino
antes de os terem visto a fazer footing nos estádios, dizemos-vos: Bravo! senhores
presidentes.»
1.
«As injustiças multiplicam-se no mundo, as desigualdades agravam-se, a
ignorância
cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica Humanidade que é
capaz de enviar
instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas,
assiste
indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais
facilmente a Marte
neste tempo do que ao nosso próprio semelhante.»
José Saramago em Discursos de Estocolmo
2.
Até hoje, 31.914
empresas já se candidataram ao mecanismo do lay-off simplificado.
3.
«Mas o pior está mesmo para chegar. Os fatores económicos são o
determinante mais poderoso da saúde pública (mais até do que o papel dos
serviços de saúde). A ideia de que há uma escolha a fazer entre prioridade à
saúde pública ou preservação da economia é, aliás, totalmente errada. O colapso
anunciado da economia, o brutal aumento do desemprego previsto e um longo
período de austeridade que se seguirá mostrarão que a tendência nos óbitos da
segunda quinzena de março não foi coincidência e tenderá a intensificar-se. Vão
ser muito mais aqueles que vão morrer por causa do coronavírus do que os que
vão morrer com coronavírus.»
Pedro Adão e Silva no
Expresso
4.
O Presidente da República disse que vai ter uma videoconferência com os
presidentes dos principais bancos para os ouvir sobre a situação no país. Até
porque «esta é uma ocasião de a banca retribuir
aos portugueses.»
5.
A 9.ª edição do Rock in Rio Lisboa foi adiada para os dias 19, 20, 26 e 27 de
Junho de 2021.
Mais de 24.800 espectáculos foram cancelados, adiados ou
suspensos em Portugal por causa das medidas de contenção da epidemia da
Covid-19, revelou a Associação de Promotores e Espectáculos, Festivais e
Eventos.
A contabilização indica que 364 promotores tiveram de
cancelar 7.866 espectáculos, adiar 15.412 e suspender 1.537 eventos, afectando um
total de 24.815 eventos culturais e artísticos de dança, música, teatro e
outras artes performativas.
As marchas populares
de Lisboa e os arraiais dos santos populares foram também cancelados.
Já soubemos, também, que numa só semana, a venda dos
livros, caiu 65,8%.
6.
Os negros números:
Itália
15.362 mortes
Espanha
11.818 mortes
Estados Unidos
8.162 mortes
França
7.560 mortes
Grã-Bretanha
4.313 mortes
Irão
3.452 mortes
China
3.207 mortes
Alemanha
1.158 mortes
Portugal
266 mortes
Mundo
64.316 mortes
7.
João Lopes no blogue Covid-20:
«Fim de semana. Medida inconsequente do
tempo. Não porque a semana não acabe, antes porque, num certo sentido, nada
começa nas novas medidas do nosso calendário. O tempo adquire espessura
imaterial, instala-se na nossa intimidade, nem lento, nem veloz, como um
fantasma cruel, quase doce na sua crueldade. Poderemos, talvez, aplicar-nos a
definição da ficção de Godard (na abertura de Fim de Semana, precisamente), apresentando-se como "um
filme perdido no cosmos", aliás, "um filme encontrado no ferro
velho". Não há nenhuma razão para abdicarmos das razões da nossa
cinefilia. Não se morre disso.»
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