No dia 24 já havia muito Abril,
muita esperança no amanhã... e também muita poesia...
Em 2014 apeteceu-me fazer uma exposição com fotografias, cravos e
poemas. Chamei-lhe, "Cravos da Liberdade - Fotografias com Palavras"
e viveu no "Espaço Doces da Mimi", em Almada, no mês de Abril.
Este foi um dos poemas, e esta, uma das fotografias...
Este foi um dos poemas, e esta, uma das fotografias...
RECEBESTE CRAVOS
na quase caixa do correio
do teu portão azul que dança
de braço dado com a amargura e o vento
que só muito raramente te oferece
uma nesga de esperança...
uma nesga de esperança...
Ele sabia que hoje chegaria aqui e tropeçava.
Ontem ainda deu para disfarçar, mas agora
sabia que lhe iam faltar ideias, palavras, vontades, sabe-se lá mais o quê.
Claro que recusa o apagamento da memória, mas
o estupor do Corvid-19 dá-lhe cabo dos dias.
Acontece, porém, que ele é visita diária do Largo da Memória.
E esse largo, essa memória, tiraram-no do
limbo de fantasmas em que se sentia enredado, um passo, outro, passo, quantos
mais passos…
Não lhe apetecia lembrar as palavras do costume
que dizem que, depois de momentos de exaltação e esperanças, arrastou-se por
momentos de angústias e desesperanças.
Não.
A fotografia, o texto, o poema são do Luís Eme, e foi
esse o passe de mágica que arranjou para não aparecer embrulhado em alegrias,
próprias e datadas, daquela nave de sonhos e loucuras em que andou mergulhado e
que ninguém lhe tira.
E, à fotografia e ao poema, que bem lhes fica o Abril.
Em tempo de escolher a música, ainda andou às
voltas, seleccionou algumas, mas em cada esquina acabou sempre por encontrar a
mesma canção: Utopia do José Afonso.
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
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