Segunda-feira de Pascoela.
Depois de um domingo-de-páscoa-quase-paraíso, regressámos
ao calvário da chuva, do cinzentismo.
A chuva faz falta e se agora nem de casa podemos sair,
que chova.
Ouçamos o som da chuva a cair.
Saibamos receber a chuva porque os campos dela precisam,
enquanto vamos lembrando aquele poema do José Gomes Ferreira e como música para
hoje, ficamos com Morning Mood de Peer Gynt, composto por Edvard Grieg
para a peça, com o mesmo nome, de Henrik Ibsen, que não nos fala de chuva, antes
do nascer do sol no deserto.
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
1.
Por vezes, ficamos com a ideia de que não há país mais
provinciano que o nosso.
Não é verdade.
Há muitos mais.
Serão todos?
Deparamo-nos com o primeiro-ministro Boris Johnson, publicamente, a agradecer ao enfermeiro português que dele tratou enquanto esteve
hospitalizado nos cuidados intensivos.
Desconheço se o enfermeiro teve alguma reacção, mas
gostava que tivesse dito que foi para isso que estudou e o ensinaram, e tanto acompanharia
na doença sua excelência, como um qualquer sem abrigo da cidade de Londres.
Cada um de nós é a pessoa mais importante para si
próprio. O orgulho pelo nosso trabalho, o ser solidário com os outros.
Não sei se disse, fujo dos pormenores, mas quase ao mesmo
tempo me disseram que Marcelo Rebelo de Sousa já falou com Luís Pitarma, o
enfermeiro, e sublinhou o especial reconhecimento apresentado por Boris
E o Cristiano Reinaldo, também já falou com o enfermeiro
Luís?
2.
Título do Jornal de
Notícias:
«Profissionais de
saúde são dos mais mal pagos da Europa.»
Não só os profissionais de saúde, todos os trabalhadores,
exceptuam-se os do costume, de há muito, são dos mais mal pagos na Europa.
3.
Um total de 761 reclusos já foram libertados em todo o
país, no âmbito das normas excepcionais e de perdão de penas aplicadas à
população prisional devido à pandemia.
4.
Os Número negros:
No mundo, o número de mortos cifra-se em 118.984 mortes.
Portugal regista 535 mortes.
Em Itália são 20,465 mortes, em Espanha 17.849 mortes, em
França 14.967 mortos.
No Reino Unido já morreram 11.329 pessoas.
Os fornecedores das funerárias do país avisaram que não
têm stocks de sacos para cadáveres. A espera para a compra destes materiais
vindos de fora é de semanas. O sistema de saúde britânico diz ter material
suficiente, mas os trabalhadores avisam que estão a embrulhar corpos em
lençóis.
Os Estados Unidos elevaram o número de mortos para
22.020.
A 28 de Fevereiro, o irresponsável Donald Trump dizia:
«Dentro de dias, os 15 casos que há nos EUA vão ficar reduzidos a zero.»
Trump ameaça despedir Anthony Fauci, especialista em
doenças infeciosas, por, mais de uma vez, ter dito que se as restrições
tivessem sido impostas mais cedo, mais vidas teriam sido salvas.
5.
«Cansa-me tanto, escrever. Cansa-me porque escrever
não é recapitular a memória: é destruir a memória. A memória é a última coisa
que nos sobra, quando estamos assustados, tão, que recompor a memória é uma
grande falta de pudor. A memória é uma autobiografia às avessas, que oculta
coisas secretas.
Não sei se alguém vai entrar por aquela porta, trazida
por um perfume, um som, uma esperança. Sei que todos nós fomos lançados para
destinos contrários.»
Baptista-Bastos em O Cavalo a Tinta-da-China
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