terça-feira, 28 de abril de 2020

GRACELAND


“I’m going to Graceland
Memphis, Tennessee
I’m going to Graceland
Poor boys and pilgrims with families
And we are going to Graceland
…………………………………….
…………………………………….
Ooh, ooh, ooh,
In Graceland, in Graceland
For reasons I cannot explain
There’s some part of me wants to see
Graceland”

(Paul Simon – “Graceland”)

Paul Simon nasceu em 1941 e teria 13 anos quando Elvis Presley fez as suas primeiras gravações no “Sun Records”, em Memphis.

É natural, portanto, que sinta uma certa nostalgia em relação a  Graceland, mesmo que não nos saiba  explicar muito bem porquê.

Não é o meu caso.


Respeito a memória do Elvis  e tudo o que ele representou para o surgimento de um novo tipo de música de que, muitos anos mais tarde, aprendi a gostar.

Também sei separar o trigo do joio, ou seja, as qualidades de Elvis, o cantor, das muitas vezes grotescas trapalhadas em que Elvis, o Homem, se viu envolvido ao longo da sua vida…

E se uma das primeiras músicas em língua inglesa que me lembro de ter gostado, em criança de 7 ou 8 anos, foi “Wooden Heart”,  era preciso ter um coração de pedra para não ter ficado com um pouquinho do Elvis dentro de mim.


Mas isso não teria sido suficiente para me fazer voar para Memphis, Tennessee…

As memórias musicais que mais me aquecem o coração não habitam por aqui…

Mas também ir a  Memphis sem passar por Graceland seria uma pura estupidez…

E assim aconteceu.

Cheguei lá e – sacrilégio…!!! - acabei por não fazer a visita à Casa.


Naquele lugar os cifrões giram à volta da nossa cabeça.


Não admira… É a Casa mais visitada em todos os Estados Unidos da América…. Uma verdadeira máquina de fazer dinheiro!

Paga-se para ver o interior da casa, paga-se para ir ao “Meditation Garden”, onde se encontra o túmulo de Elvis, paga-se para  ver a coleção de automóveis e de motas, paga-se para entrar nos dois aviões privados, eu sei lá… Só falta mesmo pagar para se poder respirar no interior…

Julgo que foi na “Estratégia da Aranha”, do Bertolucci, que ouvi ou li algo que me parece ter sido uma citação de Brecht e que dizia mais ou menos o seguinte: “Felizes dos Povos que não precisam dos seus Heróis”.

Eu não tenho rigorosamente nada contra o facto de toda esta gente vir aqui em peregrinação saudar a memória do seu Herói.

Bem pelo contrário…


Mas confesso que me incomoda bastante o cheiro a ganância que se sente no ar num lugar como este.  

Fiz as contas por alto e  uma curta visita não me ficaria por menos de 120 €…

Não sou forreta nem fundamentalista….. Seria uma vez na vida e em circunstâncias normais confesso que talvez me tentasse a ir, embora a Cristina me tivesse logo avisado que não estava nada p’raí virada.

Mas a Casa encerrava às 17h00 e já passava  das 16H00 quando lá chegámos. Teria de comprar o bilhete e apanhar um “bus” no outro lado da avenida, na zona onde estão os dois aviões privativos de Elvis, pelo que me restaria muito pouco tempo útil para a visita…  


É claro que poderia lá ter ido no dia seguinte, mas se em circunstâncias normais já não consegui cumprir o programa que tinha estabelecido para dois dias em Memphis, se tivesse regressado a Graceland estava frito… É que se diz que isto fica em Memphis mas, na realidade, fica muitíssimo  longe do centro da cidade.

Assim sendo, cheirei a propriedade por fora, li algumas das inscrições nos muros que a rodeiam, vi ao longe os dois aviões, o maior “Lisa Marie” e o mais pequeno “Hound Dog II”, comprei um catálogo para mim e algumas recordações para os amigos, e zarpei.

 Mas não me despedi do Elvis para o resto da viagem porque, uma vez que iria  andar lá por perto, ainda tinha previsto passar por Tupelo, no Mississippi,  ver a casa onde ele nasceu, o que até se iria revelar bastante mais interessante, como na altura própria vos contarei. 

Em tempo:

Quem estiver interessado em dar uma olhadela ao interior da Casa não terá de ir a Graceland.  Bastará ir ao YouTube…. 

Texto e fotografias de Luís Miguel Mira

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