quarta-feira, 8 de abril de 2020

A VERDADEIRA MÃO


                        Só mãos verdadeiras escrevem poemas verdadeiros.
                       Não vejo nenhuma  diferença de principio entre um
                       Aperto de mão e um poema,
                                                                             Paul Celan

A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se

O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita

O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende

E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta

Ana Hatherly

Legenda: pintura de Ana Hatherly

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