Não é impunemente que
se nasce em Lisboa, frente a este rio que é um mar.
Lembro-me do Mário
Castrim: «Sofro desse mal ilhavense:
quando estou muito tempo sem ver o mar, sufoco. Nasci com esta droga no sangue,
morrerei com ela.»
Há quantos dias
não vejo o mar, não oiço o grito das gaivotas?
Tenho pena de morrer
sem ver o mar, diziam as velhas no findar do dia, frente ao borralho,
preparando o jantar. Muitas, só depois de por aqui acontecer uma revolução,
conseguiram ver o mar.
A tarefa de conhecer
o barco e o mar em que vamos, ou aquele verso num poema de António Reis: «há
sempre um rapaz triste em frente a um barco».
De mar em mar, desaguamos
em Claude Debussy, no seu «La Mer», desaguamos à beira do sonho.
Qual sonho?
1.
O ministério dos negócios estrangeiros pede aos
compatriotas que trabalham ou residam no estrangeiro que, pela Páscoa, não
venham visitar os familiares e amigos não visitem, pela Páscoa. A pandemia a
isso obriga. Temos que nos proteger uns aos outros.
Depois de o prolongamento do estado de emergência ter
sido aprovado na Assembleia da República, ficou a saber-se que durante o
período de Páscoa não vão ser permitidas deslocações para fora do concelho de
residência, excepção feita para pessoas que forem trabalhar e entre os dias 9 e
13 de Abril estarão encerrados os aeroportos nacionais. Uma
medida excecional", que não abrange voos de carga, de natureza
humanitária, de repatriamento ou de natureza militar.
2.
Seis dólares por hora
e equipamento de proteção individual é o que Nova Iorque oferece aos presos de
Rikers Island para cavar valas comuns.
Ideia já constava de
plano contra surto de gripe em 2008.
Se Nova Iorque é o
epicentro do surto de coronavírus, mais de 38 mil infectados e mais de mil
mortos, que está a matar milhares de pessoas nos Estados Unidos, pode-se dizer
que a prisão de Rikers Island, a maior prisão do estado de Nova Iorque, é mesmo
o epicentro da catástrofe humanitária. A taxa de infeção entre os reclusos e os
funcionários daquela prisão isolada é sete vezes superior à taxa da cidade de
Nova Iorque.
3.
O número de pedidos
de subsídio de desemprego nos Estados Unidos atingiu os 6, 6 milhões de
trabalhadores.
4.
A TAP publicou um
vídeo em que, aos 75 anos, se despede dos portugueses com um «até já!»
Será que abandonamos
as grandes discussões sobre a situação do novo aeroporto que iria desafogar a
Portela: Alcochete, Montijo, Marrazes-de-Baixo?
Imagens do aeroporto
da Portela no dia de hoje, mostram-no quase vazio… uma náusea de tristeza
passeia-se pelos corredores, pelos átrios… o silêncio…
5.
Semanas atrás,
quantos novos restaurantes abriam em Portugal?
6.
Aterradoras as
fotografias e imagens que estão a chegar da Índia.
A miséria total num
país que alberga as maiores fortunas do mundo.
7.
A companhia aérea British Airways vai colocar 28 mil funcionários em situação
de desemprego parcial, devido à crise causada pela pandemia de covid-19, que
paralisou o sector.
8.
A Altice Portugal, em
comunicado, lamentou que não tenha siso ouvida ou notificada no processo de
suspensão das Ligas de futebol português, devido ao Covid-19.
9.
Numa só semana, a venda de livros caiu 65,8% devido à
pandemia,
A situação de desespero coloca em risco todo o sector
livreiro mas, acima de tudo, as pequenas livrarias, os pequenos editores.
10.
Os negros números:
Itália
13.915 mortes
Espanha
10.348 mortes
Estados Unidos
5.137 mortes
China
3.318 mortes
Irão
3.160 mortes
França
5.387 mortes
Grã-Bretanha
2.921 mortes
Bélgica
1.011 mortes
Portugal
209 mortes
No Mundo
52.771
11.
«Acredito que se calhar, aqui, estou mais protegida do que aí fora. Mas
a protecção não é conforto nenhum. Por causa da solidão. Isto é paredes
brancas, o chão liso o dia inteiro – eles são muito cuidadosos com a limpeza –
e às vezes a vida com um bocadinho de sujidade é melhor.»
Depoimento de uma
professora reformada, a viver num lar, publicado no Público.
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