Se Hank
Williams não teve sorte em muitas coisas na vida, o certo é que também a
não teve no que toca aos filmes que
sobre ela se debruçaram.
Que eu saiba
existem três, um de 1964 e os restantes dois bastante mais recentes. Nenhum
deles teve estreia comercial em Portugal, embora em relação ao primeiro não o
possa afirmar com absoluta certeza…
“I Saw the
Light”, realizado em 2016 por Marc Abraham com Todd Hiddleston como
protagonista, não teve direito a estreia comercial mas passou há um ano e picos
nos canais Telecine.
Para mim é o
melhor dos três, embora longe de poder honrar devidamente a memória de Hank
Williams.
O narrador do
filme é o produtor e compositor Fred Rose, que foi o grande impulsionador da
carreira de Hank, e tudo se passa em “flashback”. Começa com o casamento na tal
bomba de gasolina da Texaco, e depois revisita os momentos mais relevantes da
sua carreira. Neste aspeto, é o mais fidedigno dos três filmes, embora se
arraste demasiado na relação de Hank com a mulher, Audrey, para depois meter a martelo o “downfall”
de Hank de forma muito pouco credível.
A música do
filme é interpretada pelo próprio ator Todd Hiddleston, com o apoio de uma
banda, The Saddle Spring Boys. Não é má e não é por ela que o gato vai
às filhoses…
“The Last
Ride”, realizado em 2011 por Harry Tomason com Henry Thomas como
protagonista debruça-se, tal como o próprio nome indica, sobre os dois últimos
dias da vida de Hank Williams.
Mas mais
valia que se tivesse dito que o filme era “inspirado em…”, tal a distorção que
é feita em relação à realidade dos factos, incluindo o trajecto da própria
viagem...
O filme, que
não deixa de ser simpático se nos esquecermos de Hank Williams, não
pretende ser mais do que a história de uma amizade que em pouco tempo se
desenvolve entre quem conduz a viatura e quem vai no banco traseiro. Mas,
entre outras coisas, não consta que Charlie Carr tenha encontrado a mulher da
sua vida durante essa curta viagem nem, muitos menos, que Hank Williams lhe
tenha deixado as chaves do belo Chevrolet azul claro como herança…!
A música não
se faz sentir muito durante o filme, mas foi editado o CD com o suposto
“soundtrack” no qual, entre outros intérpretes, aparece a filha de Hank, Jett
Williams.
Para o fim
reservei-os o pior…
“Your
Cheatin’ Heart” foi realizado em 1964 por Gene Nelson e tem George Hamilton
como protagonista.
É o único dos
três filmes que, embora muito brevemente, evoca a infância de Hank, quando ele
andava com uma caixa de engraxar sapatos aos ombros para ganhar uns cobres e a
aprender música com Rufus “Tee-Tot” Payne. Mas é um filme sem ponta por
onde se lhe pegue, que se borrifa na verdade dos factos, faz de Hank um pobre
pateta e não tem outro objetivo senão meter uma música a martelo de cinco em
cinco minutos.
O melhor do
filme ainda consegue ser a música, interpretada pelo filho de Hank, Hank
Williams Jr. Mas perdoe-se ao rapaz o ter participado neste objeto
ultrajante para a memória do seu pai, porque o pobre miúdo não tinha, na
altura, mais do que 15 anos de idade…
A culpa deste
desastre não é tanto do ator e realizador Gene Nelson mas, sobretudo, do
produtor Sam Katzman que, depois de ter deixado o seu nome ligado a alguns
curiosos filmes de ficção-científica de série B nos anos 50, descobriu o filão
dos teen-agers nos anos 60 e encadeou, com a MGM, uma série de
banais filmes musicais com os ídolos da adolescência (Elvis, Roy Orbison,
Johnny Cash e até Astrud Gilberto e os Herman’s Hermits…), todos eles de muito
baixo orçamento, mas que lhe deram a ganhar rios de
dinheiro.
Gente deste
calibre não morre em quartos de hotel, a não ser em trabalhos de esforço com
uma ou duas boas companhias… E, muito menos, no banco traseiro de um automóvel,
com a cabeça encostada à janela…
Morre em
Hollywood ou em Miami. Refastelados à beira de uma piscina, calções, uma camisa
berrante com palmeiras e florzinhas, um boné à Trump na cabeça e um último cocktail
colorido na mesinha do lado...
Texto de Luís Miguel Mira
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