sábado, 18 de abril de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


Gosto de pessoas que acreditam.

Importa aquilo em que se acredita, é certo, mas há coisas simples em que se acredita e que não atrapalham ninguém.

Naquela noite de 8 de Março de 1990, no Estádio da Luz, Vata meteu o golo com a mão ao Marselha e que levou o Benfica à final da Taça do Campeões Europeus.

A bola entrou na baliza norte onde eu, entalado na multidão, apenas a vi no fundo da rede. Valdo marcou o pontapé de canto e Vata foi lá com a mão.

Numa entrevista à Antena 1, Março de 2010, insistiu que não foi com a mão mas com o ombro.

Vata, há três ou quatro dias, repete a ideia:

«Vou dizer o mesmo até morrer: marquei com o ombro».

Gosto de pessoas que acreditam, repito.

Quando ontem falava dos receios com a abertura – pequena que seja – anunciada por António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, adiantei preocupações minhas, que mantenho, tentando ser o mais razoável possível.

Devíamos impor a cada um de nós que este ano, que vai no seu quarto mês, não pode ser um ano normal.

De tempo e de vida.

Assim teremos que reconhecer, de uma vez por todas, que:

Não há campeão de futebol, não há subidas nem descidas de divisão.

Não houve Páscoa, esperemos, apenas, que haja Natal.

Não há 25 de Abril.

Não há 1º de Maio.

Não há 13 de Maio na Cova da Iria.

Não há Rock in Rio.

Não há santos populares.

Tanta coisa, tanta coisa, tanta coisa.

Depois da reclusão caseira que nos impuseram – e com grandes sacrifícios, compridamente, a tenho cumprido – não podemos estragar tudo por um qualquer motivo.

Se não podemos ir ao funeral de um amigo, de um familiar, podemos ir para a rua comer bifanas e sardinhas assadas?

Podemos errar mas, a todo o custo, temos que evitar ser imbecis e irresponsáveis.

 Aqui chegado, volto a Rachmaninoff.

Descobri o compositor, teria para aí uns 17 ou 18 anos, quando nesse espantoso O Pecado Mora ao Lado, filme de Billy Wilder, o vizinho tenta seduzir Marilyn Monroe pelas mais diversas maneiras, uma delas é com o Concerto Para Piano Nº 2 em Dó Menor de Rachmaninoff.

Nenhum dos dias de Covid-19 corre bem, mas há uns piores que outros.

O de hoje tem sido amargo, pelo que ficamos com um excerto de Rhapsody on a theme of Paganini. 

É um excerto, mas ouçam-no todo, se não o tiverem em casa, recorram ao  You Tube.

Billy Wilder pensava que Rachmannoff podia resolver um qualquer pormenor que não estivesse a correr bem. 

Penso o mesmo.

1.

As Nações Unidas alertam para o facto que as crianças podem ser as grandes vítimas da pandemia de covid-19, sobretudo pela pobreza que pode afectar 62 milhões de crianças, apesar de o grupo etário não estar a ser atingido directamente pela doença.

«Todas as crianças, de todas as idades e em todos os países estão a ser atingidas pelos efeitos sócio económicos da pandemia sendo que os efeitos da crise podem vir a ter impactos de longa duração sobretudo nos países mais pobres onde existe mais vulnerabilidade»

Os três aspectos principais da crise sobre as crianças dizem respeito à infecção pelo coronavírus, os impactos sócio-económicos relacionados com as medidas contra a propagação da doença e os efeitos que atingem, a longo prazo, a implementação dos objectivos para o desenvolvimento sustentável.

Entre 42 a 62 milhões de crianças correm o risco de pobreza extrema por causa da presente crise sanitária sendo que 386 milhões de crianças já se encontravam em situação de pobreza extrema em 2019.

2.

Os negros números:

Portugal regista 687 mortos.

A Itália regista 23.227 mortos, a Espanha 20.043 mortos, a França 19.323 mortos, a Grã-Bretanha 15.464.

Os Estados Unidos continuam a ser o país do mundo com maior número de mortes: 33.049.
No estado de Nova Iorque registam 13.202 mortes.

Em todo o mundo já morreram 158.691 pessoas.

3.

João Lopes no seu Covid-20

«Que está em jogo? O regresso ao trabalho? Ou a reconversão das formas de trabalhar? Para além da questão fulcral da saúde, um dos factores mais perturbantes desta crise decorre do facto de, com ela e através dela, pressentirmos a possibilidade de uma verdadeira revolução social — entenda-se: laboral — sobre a qual não sabemos construir uma qualquer perspectiva política. Porquê? Porque esta é uma revolução liderada pela própria violência da doença, sem vanguardas nem líderes carismáticos.
Vemo-nos, assim, desapossados do próprio conceito de revolução que aprendemos na história. Por vias do Bem ou do Mal (quase sempre do Bem e do Mal), a revolução expressava-se — e, de alguma maneira, acontecia — através da miragem mais ou  menos realista de um destino. Agora, o destino, seja ele qual for, escapa-se-nos na areia do tempo.»

1 comentário:

Seve disse...

Ó Sammy não acredito que o meu amigo goste da mentira e de mentirosos (vidé Cerejeira e D.António que o substituiu); ou haverá mentiras que o não são se forem ditas por determinadas gentes?

A mão de Vata é mais uma das grandes vigarices do nosso futebol!