Para
assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram publicados.
COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE EXTINÇÃO...
Voo TP 602 de
Lisboa para Copenhaga no dia 3 de Julho de 1994.
Pintura de
Francisco Relógio para a capa da ementa servida, em classe executiva, por
aqueles tempos, a bordo dos aviões da TAP.
Hors d’oeuvre
Salmão fumado
Alcachofra
fiorentina
Entrée
Lagosta suada
Cabo da Roca
Arroz branco
Dessert
Queijo –
Crackers
Bolo Império
Apesar dos
nomes pomposos, não passava de puro e mero catering, e o vinho branco, não
estava à temperatura, minimamente exigível.
Gosto de
viajar de barco e de comboio.
Os aviões não
fazem o meu género.
Sei que morre
mais gente em acidentes de viação, e outros, do que em desastres de aviação.
Não é bem uma
questão de medo, é uma outra coisa qualquer, e sempre que viajei de avião, foi
por exigências profissionais.
Nunca
gastaria um cêntimo do meu bolso para viajar de avião e já cheguei a uma idade
em que quase posso dar a afirmação por definitiva.
O único
interesse por aviões limitou-se ao gosto de os ver levantar e descer na
Portela, o tempo em que isso era um espectáculo dominical dos meus tempos de
infância
.
Sim os aviões
estavam guardados para os domingos de Verão, quando o futebol estava no chamado
defeso e não havia jogos.
Os domingos
do meu avô, os meus também, regulavam-se por haver, ou não, jogos no Estádio da
Luz.
Na Praça do
Chile apanhávamos, para a Portela, aqueles autocarros verdes, de dois andares,
e por ali ficávamos a ver os aviões.
O aeroporto
não era o que hoje é, e o movimento de aviões era diminuto.
No edifício
havia uma esplanada, com grandes chapéus-de-sol, que se viam cá de baixo, do
gradeamento que limitava a pista. Adivinhavam-se mulheres com vestidos
vaporosos às ramagens, homens de fato e gravata, a beberem o seu chá, o seu
café, a sua limonada ou o seu “whisky”.
Penso que
assim era, pois nunca cheguei a subir até lá.
Não consigo
situar bem quando a TAP começou a deixar de ser uma companhia de aviação,
elogiada pelo mundo fora, para passar a ser o que hoje é.
Quando viajar
de avião ainda tinha um pouco de charme e glamour.
Os tempos em
que havia a possibilidade de escolher lugares entre fumadores e não fumadores.
Prazeres de
outro século... claro está!...
As viagens
que fiz foram todas owner’s account. e enfiavam-me em executiva porque essas
eram as directivas da agência: fosse para os membros do Conselho de Gerência,
fosse para os restantes trabalhadores.
Não sei se a
bordo dos aviões da TAP ainda se pratica este luxo das ementas com quadros de
pintores portugueses.
Também
considero que colocar a TAP em vias de extinção seja um exagero.
Talvez que a
designação correcta seja… em vias de privatização.
Ainda agora
Cavaco Silva & Cª Lda se passeia por destinos longínquos, na tentativa de
vender as jóias da coroa que ainda restam.
TP 577 de
Hamburgo para Lisboa no dia 8 de Julho 1994.
Pintura de
Manuel Cargaleiro para a capa da ementa servida nesse dia:
Hor’s
d’oeuvre
Salmão fumado
Salada da
Estação
Entrée
Medalhões de
Porco ao Molho de mostarda
Ervilhas
Batatas
croquete
Dessert
Queijo –
Crackers
Mousse de
Chocolate.
Viajar em
executiva oferece – oferecia? – um certo tipo de paneleirices.
De quando em
vez, uma simpática hospedeira interrompia-me a leitura de um livro, ou do
jornal, para saber se estava tudo bem, se necessitava de alguma coisa.
Mostrava o
meu melhor sorriso, que é coisa nada fácil, e ficava com uma vontade doida de
dizer que me deixasse em paz, que preferia que me tivessem servido comida, a
saber a comida, e não aquela coisa que a comida não sabia e, rigorosamente, não
sabia a nada!
Há quem
goste!
Que sejam
muito felizes!...
Texto publicado em 28 de Maio de 2012
2 comentários:
Os domingos do meu avô, os meus também, regulavam-se por haver, ou não, jogos no Estádio da Luz.
Isto era no tempo em que o dia tinha três partes: manhã, tarde e noite...
Acima de tudo era um tempo lento, que dava para tudo, ou qquse tudo.
Tempos difíceis, muito difíceis mesmo, mas com pormenores, gestos muito simples, mas cativantes e que deixaram memórias.
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