quarta-feira, 29 de abril de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS



Hoje, o sol continuou a fazer birra, e só quase no findar do dia, fez uma aparição, tímida, envergonhada.

Desde esta janela, fiquei a olhar esse azul vermelho laranja do entardecer, que vai ser a cor da noite até um outro nascer do sol.

Apesar da beleza, a ansiedade do raio do vírus acaba por estragar qualquer tentativa de pensar positivo.

Como diria o Eugénio de Andrade:

«Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar o coração, a minha face ao rosto lunar dos bêbados e perguntar o que aconteceu…»

O rosto lunar dos bêbados, de que fala o Eugénio, levou-me, sei lá porquê, até ao Passeio Musical em Trenó de Leopold Mozart, pai de Wolfgang.



 

1.

O mundo saloio, hipócrita, javardo e corrupto do futebol português, ainda não percebeu que não há condições para que se possam concluir os campeonatos que estavam a decorrer quando o Covid-19 nos bateu à porta.

Ao longo dos que os clubes endividaram-se até mais não, e agora sentem-se com as calças a caírem e prestes a mostrarem o cú.

Os operadores de televisão já lhes disseram que vão fechar a torneira, porque se não há palhaços, não há dinheiro.

Receio que o governo lhes vá dar uma mãozinha.

E isso é um crime!

2.

A Diocese do Porto revelou que, devido à quebra de receitas motivada pela suspensão de atividades de culto em virtude da covid-19, colocou uma parte dos seus colaboradores em ‘lay-off’, situação que inclui elementos do clero.

«Os direitos e deveres neste contexto são iguais aos de qualquer outro trabalhador», lê-se numa nota da Diocese a que a Lusa teve acesso.

3.

Um homem com cerca de 80 anos agrediu a empregada da limpeza com 30 anos, com uma catana num bairro da Ameixoeira em Lisboa.

As autoridades registam que a fragilidade sócio-económica por que muitas pessoas estão a passar, poderá suscitar situações de violência.

4.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, afirmou que  «a TAP não tem condições de sobreviver sem intervenção pública».

5.

Regras dos restaurantes na Ásia: clientes fazem fila na rua, medem a temperatura, preenchem formulários e tiram a máscara só para comer. E só há grupos de quatro pessoas.

6.

Os negros números:

As mortes provocadas pela pandemia nos Estados Unidos superam os americanos mortos na guerra do Vietname: 58.365.

A Grâ-Bretanha passou a ser o segundo país europeu com mais mortes devido ao Covid-19.

Portugal regista 973 óbitos.

Itália: 27.682 mortos
Grã-Bretanha: 26.097 mortos
Espanha: 24.275mortos
França: 24.087 mortos

Em todo o mundo já morreram 225.927 pessoas. 

7.

Não consegui saber a data desta afirmação de José Saramago:

«O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele.»

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