quarta-feira, 1 de abril de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


Aqui por casa, continuamos o recolhimento obrigatório...

Ao longo dos dias, idas à janela que dá para a rua: uma nesga de rua triste, com carros estacionados, quase nada de gentes, lojas fechadas.

Idas à janela das traseiras, vista mais desafogada, uma abrangente vista sobre Lisboa, olhar as peças de roupa nos estendais das vizinhas e lembrar o louco João César Monteiro em Uma Semana Noutra Cidade:

«Segunda-feira, 8 de Julho

As cuecas da filha da Dona Assunção desapareceram da corda da roupa.

Domingo, 14 de Julho

As cuecas da filha da Dona Assunção apareceram num montouro de entulho. Está salva a honra do convento».

Por música ficamos, hoje, com Chopin, os Nocturnos tocados pela Maria João Pires, reunidos num duplo CD da Deutsche Gramophone, lembrados aqui num  excerto de Os Clássicos do Meu Pai:

«O meu pai gostava muito da Maria João Pires. Se a morte não o tivesse levado teria ficado muito feliz quando a caixa  dos “Nocrurnos” de Chopin, tocados pela Maria João Pires, chegou ao top dos discos mais vendidos, no Natal de 1996, em Portugal. A morte roubou-lhe essa alegria, mas também o poupou de assistir ao desgosto de Maria João Pires com a falência do seu projecto-sonho para Belgais.

Um sonho que virou pesadelo, que a levou, inclusive, a deixar Portugal e a refugiar-se no Brasil, um sonho demasiado bonito para ter acabado da maneira como acabou. Culpas várias mas em que as de Maria João Pires serão mínimas.»


1.

Governo deu parecer favorável à renovação do período do estado de emergência por mais 15 dias. Ainda não se conhecem pormenores do decreto do governo.
O prazo de prorrogação do estado de emergência inicia-se as 00h00 de 3 de Abril e termina às 23h59 de 17 de Abril.

2.

Com caracter temporário, o Governo britânico vai libertar mulheres grávidas actualmente detidas, assim como reclusas que estejam em unidades onde residem com os filhos, de forma a protegê-las do contágio de Covid-19 nas prisões

3.

Maria do Rosário Pedreira esgalhou estes versos, deu-lhes o nome de Fado da Lisboa Doente e, não tarda aí uma loja de barbeiro, que não apareça música para a voz de Aldina Duarte:

Quem a viu e quem a vê,
Esta Lisboa onde moro.
Mas não perguntem porquê.
Pois, se explicar, ainda choro.

Na padaria da esquina
Já só se entra às pinguinhas
E até se tornou rotina
Estar a um metro das vizinhas.

Há fila para a farmácia,
Fila pró supermercado;
E nem é precisa audácia
Para se andar mascarado.

Nas traseiras do meu prédio
Uma jovem namorada
Tenta combater o tédio
Com uma videochamada.

A uns metros de distância
Parte um atleta em corrida;
Para manter a elegância
Há que fazer pela vida.

De resto, com a emergência,
Ficam as ruas desertas.
Podemos conferir a ausência
Pelas janelas abertas.

Está tudo em teletrabalho,
A olhar p’ró monitor.
Mas não encontro o atalho
Para vos falar de amor.

Dar beijos é só por escrito,
Que o vírus mata a valer.
E está tudo tão aflito
Que nem apetece ler.

Ai Lisboa, que saudade
Da tua irrequietude.
Mesmo que, em boa verdade,
Mais importante é a saúde.

Que tudo passe ligeiro,
E não afecte o meu ninho.
Da Praça do Areeiro
Envio um tele-beijinho!

4.

Os negros números:

Itália

13.155 mortes

Espanha

9.053 mortes

França

4.032 mortes

Estados Unidos

3.603 mortes

Depois de terem sido apresentadas projeções que apontam para um cenário de 200 mil mortos nos Estados Unidos, Deborah Birx, a responsável por coordenar a resposta da Casa Branca ao surto de Covid-19, diz que esse é o número num quadro "quase perfeito". No pior dos cenários, a projeção do número de mortos dispara para dois milhões.
No passado domingo, o conselheiro de saúde da Casa Branca, Anthony Fauci, fez uma previsão na CNN de que mais de 100 mil americanos podiam morrer da doença Covid-19. As piores previsões de Fauci apontam para 200 mil mortes.

China

3.603 mortes

Irão

3.036 mortes

Grã-Bretanha

2.352 mortes

Holanda

1.173 mortes

Portugal

187 mortes

No Mundo

45.497 mortes

5.

Em cada segundo do novo dia, olhamos a sombra, o silêncio da escuridão, a possibilidade de o Corvid-19 nos entrar por uma nesga da porta que temos cerrada a sete chaves.

É impossível pensarmos em algo diverso desta terrível realidade diária.

O medo que nos enlaça, pensarmos o que seremos muito em breve.

Revoltados teremos que ficar quando topamos a UEFA preocupada com o facto de as diversas federações europeias , com caracter de urgência, terem de indicar os clubes que irão disputar as taças que o organismo do pontapé bola, organiza e que lhe enchem os cofres de euros.

Ninguém os pode exterminar? 

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