Aqui por casa, continuamos o
recolhimento obrigatório...
Ao longo dos dias,
idas à janela que dá para a rua: uma nesga de rua triste, com carros
estacionados, quase nada de gentes, lojas fechadas.
Idas à janela das
traseiras, vista mais desafogada, uma abrangente vista sobre Lisboa, olhar as
peças de roupa nos estendais das vizinhas e lembrar o louco João César Monteiro
em Uma Semana Noutra Cidade:
«Segunda-feira, 8 de Julho
As cuecas da filha da Dona Assunção desapareceram da corda da roupa.
Domingo, 14 de Julho
As cuecas da filha da Dona Assunção apareceram num montouro de entulho.
Está salva a honra do convento».
Por música ficamos,
hoje, com Chopin, os Nocturnos tocados
pela Maria João Pires, reunidos num duplo CD da Deutsche Gramophone, lembrados
aqui num excerto de Os Clássicos do Meu
Pai:
«O meu pai gostava muito da
Maria João Pires. Se a morte não o tivesse levado teria ficado muito feliz
quando a caixa dos “Nocrurnos” de
Chopin, tocados pela Maria João Pires, chegou ao top dos discos mais vendidos,
no Natal de 1996, em Portugal. A morte roubou-lhe essa alegria, mas também o
poupou de assistir ao desgosto de Maria João Pires com a falência do seu
projecto-sonho para Belgais.
Um sonho que virou
pesadelo, que a levou, inclusive, a deixar Portugal e a refugiar-se no Brasil,
um sonho demasiado bonito para ter acabado da maneira como acabou. Culpas
várias mas em que as de Maria João Pires serão mínimas.»
1.
Governo deu parecer favorável à renovação do período do
estado de emergência por mais 15 dias. Ainda não se conhecem pormenores do
decreto do governo.
O prazo de prorrogação do estado de emergência inicia-se
as 00h00 de 3 de Abril e termina às 23h59 de 17 de Abril.
2.
Com caracter
temporário, o Governo britânico vai libertar mulheres grávidas actualmente
detidas, assim como reclusas que estejam em unidades onde residem com os
filhos, de forma a protegê-las do contágio de Covid-19 nas prisões
3.
Maria do Rosário
Pedreira esgalhou estes versos, deu-lhes o nome de Fado da Lisboa Doente e, não
tarda aí uma loja de barbeiro, que não apareça música para a voz de Aldina
Duarte:
Quem a viu e quem a vê,
Esta Lisboa onde moro.
Mas não perguntem porquê.
Pois, se explicar, ainda choro.
Na padaria da esquina
Já só se entra às pinguinhas
E até se tornou rotina
Estar a um metro das vizinhas.
Há fila para a farmácia,
Fila pró supermercado;
E nem é precisa audácia
Para se andar mascarado.
Nas traseiras do meu prédio
Uma jovem namorada
Tenta combater o tédio
Com uma videochamada.
A uns metros de distância
Parte um atleta em corrida;
Para manter a elegância
Há que fazer pela vida.
De resto, com a emergência,
Ficam as ruas desertas.
Podemos conferir a ausência
Pelas janelas abertas.
Está tudo em teletrabalho,
A olhar p’ró monitor.
Mas não encontro o atalho
Para vos falar de amor.
Dar beijos é só por escrito,
Que o vírus mata a valer.
E está tudo tão aflito
Que nem apetece ler.
Ai Lisboa, que saudade
Da tua irrequietude.
Mesmo que, em boa verdade,
Mais importante é a saúde.
Que tudo passe ligeiro,
E não afecte o meu ninho.
Da Praça do Areeiro
Envio um tele-beijinho!
4.
Os negros números:
Itália
13.155 mortes
Espanha
9.053 mortes
França
4.032 mortes
Estados Unidos
3.603 mortes
Depois de terem sido
apresentadas projeções que apontam para um cenário de 200 mil mortos nos
Estados Unidos, Deborah Birx, a responsável por coordenar a resposta da Casa
Branca ao surto de Covid-19, diz que esse é o número num quadro "quase
perfeito". No pior dos cenários, a projeção do número de mortos dispara
para dois milhões.
No passado domingo, o
conselheiro de saúde da Casa Branca, Anthony Fauci, fez uma previsão na CNN de
que mais de 100 mil americanos podiam morrer da doença Covid-19. As piores
previsões de Fauci apontam para 200 mil mortes.
China
3.603 mortes
Irão
3.036 mortes
Grã-Bretanha
2.352 mortes
Holanda
1.173 mortes
Portugal
187 mortes
No Mundo
45.497 mortes
5.
Em cada segundo
do novo dia, olhamos a sombra, o silêncio da escuridão, a possibilidade de o
Corvid-19 nos entrar por uma nesga da porta que temos cerrada a sete chaves.
É impossível
pensarmos em algo diverso desta terrível realidade diária.
O medo que nos
enlaça, pensarmos o que seremos muito em breve.
Revoltados
teremos que ficar quando topamos a UEFA preocupada com o facto de as diversas federações
europeias , com caracter de urgência, terem de indicar os clubes que irão
disputar as taças que o organismo do pontapé bola, organiza e que lhe enchem os cofres de euros.
Ninguém os pode
exterminar?
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