terça-feira, 14 de abril de 2020

DIÁRIO DOS DIAS DIFÍCEIS


Voltamos a começar com a meteorologia.

Hoje, de novo a chuva, acompanhada de trovoada, também granizo.

Tempo cinzento, triste.

De longe a vida nos aponta, de perto é a morte que nos aperta, para lembrar um verso de David Mourão-Ferreira que estou a citar de memória.

Não sei se vou aguentar, até final de Maio, a reclusão doméstica a que estou forçado. 

Horrorizei-me, ontem, quando a senhora Ursula von der Leyen, líder da Comissão Europeia, disse que os idosos têm de estar confinados até ao fim do ano.

Apaguei a luz, não adormeci logo,  e fiquei a pensar o tempo suficiente para concluir que isto assusta mesmo.

Pela manhã, manhã não, quase meio-dia, andamos com as horas todas trocadas, quando comia a primeira torrada de pão alentejano, concluí que a senhora não deve saber do que está a falar.

Olha-se a figura e não ressalta uma faúlha sequer de sabedoria política, cultural, seja do que for.

Medo.

Uma palavra das muitas e muitas que lemos e vamos guardando.

Alguma vez sabia eu o que era medo?

Posso agora dizê-lo: não!

Os livros que fui lendo, ao longo de grandes tempos, falavam de medos, medos tantos e tão diversos.

Fiquei sempre com a ideia de que o medo é uma situação de impotência, vinda sabe-se lá de que cantinho do que somos, e acontece num pedaço de tempo que pode durar uma eternidade.

O filho da mãe do Covid-19 está a pôr-nos à prova.

Isolou-nos do mundo sem que nos apercebêssemos.

Diane, no filme Setembro do Woody Allen, já por aqui citado, queria estar preparada e perguntava:

Onde é que está a vodka?»

Decerto vou precisar de mais alguns gins, para tentar esquecer esta trágica evidência de não saber se haverá manhã.

Tom Waits, com aquela sua voz que tem alcatrão suficiente para asfaltar uma autoestrada inteira, como um dia escreveu a «Rolling Stone», dá-nos música, mas continua a dizer que o piano tem andado a beber… ele é que não…ele é que não...


1.

O meu filho diz que eu sou um bota-palavra-em-tudo-o-que-é-assunto, que tirei, sem que me tivesse apercebido, uma pipa de mestrados.

Arrisco a minha inconsciente irresponsabilidade: enquanto não houver vacinas para este vírus, o que as gentes diariamente dizem nas televisões são meras histórias para entreter camelos.

E isso precisa de tempo agarrado a mutações que não se sabe como evoluem.

2.

Se esta pandemia é uma guerra, a cantiga é uma arma, tal como ensinou o Zé Mário Branco.

«Esta ideia de que a austeridade é uma forma de lidar com crises é um erro. É uma construção ideológica.

Mariana Mortágua, deputada do BE

3.

O FMI acredita que Portugal pode ter recessão de 8% em 2020 e o desemprego pode disparar para perto dos 14%. Admitem ainda que a recessão económica será muito maior do que nos anos da crise financeira.

4.

O serviço europeu de polícia anunciou ter detectado um esquema fraudulento de máscaras faciais, devido à pandemia da Covid-19, que terá lesado autoridades de saúde alemãs em milhões de euros, que já motivou duas detenções, máscaras faciais que nunca existiram.

5.

Um inquérito feito pelo Instituto Nacional de Estatística e pelo Banco de Portugal às empresas, revela que muitas empresas da restauração já se encontravam, antes da pandemia, em situação difícil e não voltarão a abrir.

Para as restantes tudo o que está a ser feito são moratórias, alívios temporários, que vão causar, a breve tempo, custos enormes que as empresas não vão conseguir saldar.

O alojamento e restauração são os sectores que apresentam um maior impacto.

6.

As autoridades de saúde recomendam agora que todas as pessoas utilizem máscara sempre que estejam em espaços fechados e frequentados por muita gente, como supermercados, lojas, farmácias e transportes públicos.

7.

Os negros números:

O número de mortes em Portugal subiu para 567.

A Itália 21.067 mortos a França regista 15.729 mortos.

Na Grã-Bretanha as vítimas mortais são as 12.107,  enquanto os Estados Unidos registam um número de 23.500 mortos, sendo que 7.905 se verificam no estado de Nova Iorque.

Em todo o mundo já morreram 125.123 pessoas.

8.

 «Nascer é inaugurar a solidão.»

Álvaro Guerra em O Capitão Nemo e Eu

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