Para
assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram publicados.
OPERAÇÃO
PAPAGAIO
Os escassos
atentados que foram levados a cabo para derrubar Salazar, fracassaram todos.
O ditador
cairia por um mero acidente
cadeiral quando, em férias no Forte de Santo António da Barra, o
calista se preparava para lhe tratar das extremidades.
Os que
lembram estas coisas, sabem do assalto ao Santa
Maria, o assalto ao Quartel
de Beja, mas poucos saberão da Operação
Papagaio.
A serenidade
da aleluia pascal tem dado para uma revisitação ao Mário-Henrique Leiria.
Que também mete Luiz Pacheco.
Olha que dois!
Que também mete Luiz Pacheco.
Olha que dois!
Ao Mário,
conheci-o, antes do 25 de Abril, na redacção do República.
Um tipo
extraordinário, vivaz, uma ternura desconcertante, de uma verticalidade
assombrosa.
Perguntavam-lhe
por histórias velhas: os tiros
de caçadeira na noite de Carcavelos, a Operação
Papagaio.
Mário-Gin-Tonic
sorria e ficava-se por aí.
Como
escreveria:
… já lá vão tantos anos que talvez o que
me reste na memória seja apenas aquela saudade melancólica que embeleza tudo.
Sei lá.
Fernando
Correia da Silva, no já citado Surrealismo
e Carbonária conta assim sobre a Operação Papagaio:
…a maioria dos frequentadores do Café A
Brasileira em 1961 já sabe, regabofe colectivo: tu, e um grupo de malucos,
entre os quais Virgílio Martinho e o poeta António José Forte, estão a
programar, de mesa para mesa e em voz alta, a revolucionária “Operação
Papagaio”. Numa das próximas noites vocês propõem-se bater à porta do Rádio
Clube Português, que fica na Parede, povoação mesmo ao lado de Carcavelos. Lá
dentro há apenas um contínuo enquanto roda a bobine com o programa nocturno
“Companheiros da Alegria”. A porta é aberta. Vocês apontam um revólver,
imobilizam, amarram e metem o contínuo num cacifo que depois fecham por fora, a
cadeado. Entram no estúdio e trocam a bobine por uma outra que trazem convosco.
Esta contem marchas militares, também o Hino Nacional tocado frequentemente e,
a cada cinco minutos, notícias sobre movimentações militares para derrubar o
Governo. Termina convidando a população a deslocar-se á Baixa de Lisboa para
saudar os militares vitoriosos.
Enquanto gira a nova bobine vocês retiram-se
do Rádio Clube Português. Ficarão, pelas esquinas, a aguardar a reacção dos
ouvintes que, esperam, seja de entusiasmo...
Quem não aguarda é a PIDE, que vos
prende mas fora d’A Brasileira, para não dar nas vistas. Durante o
interrogatório os agentes, volta e meia, correm para o corredor a desrolhar as
gargalhadas. Vocês ficam detidos uns quatro ou cinco dias, talvez uma semana.
Depois levam uns safanões e são postos na rua. O espaço já é curto para
arrecadar tantos subversivos, quanto mais uns brincalhões inofensivos...
Luiz Pacheco,
no seu Prazo de
Validade, conta uma outra versão:
Que se passou na Parede? Ao chegarem ao
Rádio Clube Português, os carros dos conspiradores depararam com obstáculo
inesperado, imponderável: havia ali, no ringue de patinagem, um desafio de
hóquei, gente a assistir, um polícia, o gratificado, a olhar. Gerou-se
discussão no interior dos automóveis. Que fazer? Aquilo não fora previsto,
aquilo, assim, podia dar para o torto… não estavam mentalizados para
violências. Somente uma acção anarca, súbita, rápida, insólita. Sem vítima, sem
derramamento de sangue nenhum. Por mim sempre pensei, que, à chegada à Parede,
já haveria arrependidos, temerosos do pior. Que a presença de jogadores,
entretidos na sua lida, algum público e o chui não seria inconveniente para os
forçar a desistir. Mas foi o pretexto. Foram a votos e ganharam os indecisos e
os pusilânimes. Voltaram para trás. Argumento de peso: vimos cá amanhã!...
Amanhã também é dia!
Luiz Pacheco
conta também de uma artigalhada, sem qualquer sentido
pejorativo, o Pacheco gostava da frase, que Luís Filipe
Costa escreveu para o semanário Extra, a falar da
Operação Papagaio, mas não encontrou o recorte na Hemeroteca Municipal de
Lisboa.
Teria sido mais exacto, escreveu Pacheco.
Se para aqui chamássemos o John Ford ele diria que se os factos se transformam em lenda, deve publicar-se a lenda.
Se para aqui chamássemos o John Ford ele diria que se os factos se transformam em lenda, deve publicar-se a lenda.
Mas o
poeta Carlos Loures,
em Estrolabio, tenta
os factos e faz um apanhado das versões que ele conhece sobre a Operação
Papagaio.
Vale a pena ler!
Vale a pena ler!
Texto publicado em 28 de Março de 2016
Sem comentários:
Enviar um comentário