segunda-feira, 13 de abril de 2020

ESCREVER


Se eu pudesse havia de… de…
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressoante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não… ou sim.
E, como isto, continuando…

E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava…
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse…
fino e sem cor… medroso…
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito.
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos…
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente…
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?

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