O Vaticano é um reino estranho.
Sempre foi.
Li que, recentemente, abriram os arquivos do reinado de
Pio XII, mas parece que não colocaram tudo.
Pairam, por exemplo, as mais sérias bênçãos com que
rodeou os actos nazi/fascistas…
Por vezes, um qualquer papa, quer abrir janelas para os
novos e frescos ares entrarem pelos salões e sacristias.
Um desses papas, João Paulo I, no dia 28 de Setembro de
1978, morreu durante o sono.
Chamavam-lhe o Papa do Sorriso.
O Papa João Paulo I, tinha ideias claras para o seu pontificado que apenas durou 33 dias.
O Papa João Paulo I, tinha ideias claras para o seu pontificado que apenas durou 33 dias.
A sua morte ocasionou especulações várias.
O agora Papa, Francisco de seu nome, entrou portas dentro do Vaticano com uma enorme vontade de refrescar pensamentos e procedimentos.
Para o efeito tem-se rodeado de gente que o ajude no abono das suas vontades. Uma dessa gente é o filósofo e poeta português José Tolentino de Mendonça.
Algumas das suas vontades tem conseguido que avancem, mas para outras, têm-lhe feito a vida negra.
Há uma semana ou duas, durante uma visita de seminaristas
do Colégio Escocês de Roma ao Papa, foi-lhe oferecida uma garrafa de whisky.
Com a sua humildade e sentido de humor, disse aos
seminaristas que aquela era a verdadeira água benta.
Um beato-censor,
que, provavelmente, fecha os olhos à pedofilia eclesiástica, cortou a frase do
vídeo onde está registada a visita dos seminaristas.
O diário britânico Daily Record comentou:
«É uma pena, porque não creio que a cena fosse
negativa para o Papa. Pelo contrário, mostra seu lado humano e bem-humorado, e
acho que essa censura é uma forma exagerada de proteger sua imagem».
A Igreja e o seu lado triste e negativo.
Por
aqui, durante a ditadura salazarista/marcelista, sabemos do ruidoso silêncio
com que a igreja rodeou as perseguições e assassínios da PIDE/DGS, o ámen sobre
a guerra colonial.
Alguém
se recorda de um tal Cerejeira, Patriarca de Lisboa durante 42 anos, que
assistiu, durante as guerras coloniais, às mães que iam pagar promessas em
Fátima enquanto os filhos iam morrendo numa guerra trágica?
Alguém
se recorda de um tal D. António Ribeiro, sucessor do Cardeal Cerejeira, que no
centenário da cerejal figura, ter dito, sem se rir, que ele fôra um acérrimo
defensor da «independência da Igreja
perante o Estado, da liberdade das consciências e dos direitos essenciais da
pessoa humana, numa época de tão poderosos totalitarismos»?
Alguém
se recorda o mesmo Manuel Gonçalves Cerejeira ter dito, no dia 2 de Outubro de
1966, perante a I Assembleia do Clero do Patriarcado de Lisboa:
«Não tenho nada a não ser vós, o clero do
Patriarcado. Sou pobre, vivo do que o Patriarcado me dá e quando me retirar,
ficarei ainda o pobrezinho, que viverá ocultando-se o mais que puder, que
viverá da caridade do Patriarcado de Lisboa»?
Passados
anos, o mais fiel servidor de Salazar, desmentiu ter acções na Sacor e na
Mabor, admitindo que as tenha o Patriarcado.
Esta
iminência parda, a que chamaram príncipe da Igreja, morreu no dia 1 de Agosto
de 1977, sem que o 25 de Abril de 1974, o tivesse incomodado no seu retiro patriarcal
na Buraca.
A
quem ele prestou as tenebrosas contas?
É
este tipo de gente que se escandaliza, em qualquer época, que um Papa Francisco chame
ao whisky a verdadeira água benta.
Legenda: De Oliveira Salazar a Marcelo Caetano, Cerejeira
foi sempre um fiel defensor da ditadura.
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