Quinta-feira, dita de Paixão.
O mais duro dos percursos.
De quem sabe que a morte pode estar ligada ao estupor de
um vírus, que caminhou de muito longe para nos atormentar os dias, mas também as
amarguras profundas, solidões muito
grandes, de quem não soube lidar com as fraquezas que minam cada um de nós.
Será que o destino é cruel?
Talvez, mas acima de tudo é um tipo sem moral nenhuma.
Somos, por isto ou por aquilo, uns meros doentes da vida.
«E só as crianças
se riem durante o sono», como escreveu Jorge Listopad.
O velho Woody
Allen gostava de marcar distâncias:
«Não é que eu esteja com medo de morrer. Apenas não quero estar lá quando isso acontecer.»
«Não é que eu esteja com medo de morrer. Apenas não quero estar lá quando isso acontecer.»
Já que te acusam de citares muito, coloca mais três
citações:
Escreveu o poeta e filósofo José Tolentino Mendonça:
«Muitas vezes Deus prefere entrar em nossa casa quando
não estamos.»
O poeta
transmontano A.M. Pires Cabral:
«Que de tudo se
precisa nesta vida. Na outra, por enquanto não se sabe»
Marguerite Yourcenar:
«não creio como eles crêem,
não vivo como eles vivem,
não amo como eles amam…
não vivo como eles vivem,
não amo como eles amam…
morrerei
como eles morrem.»
como eles morrem.»
A música, bom a música é o coro final da Paixão Segundo São Mateus de Johann Sebastian Bach.
De tudo se precisa nesta vida, é certo, mas esta música não poderá deixar de nos acompanhar, sejam quais forem os passos que necessitamos de percorrer.
1.
Todo o tempo desta Páscoa, vai ser molhado.
Choveu, em Lisboa, durante todo o dia.
Lembro-me do poeta José Gomes Ferreira, à janela da
varanda da sua casa, no 2º Frente Esquerdo do nº 33 da Avenida Rio de Janeiro, a ver a chuva cair e a lembrar-se que aquela
chuvinha era uma bênção para os nabos e outras hortaliças, que tinha plantados na
sua casa de Albarraque, num terreno herdado do seu pai, projecto do filho do
poeta Raul Hestnes Ferreira, com o patiozinho voltado para poente, a desenhar
com os olhos a Serra de Sintra.
2.
Obrigo-me a que estes dias de pesadelo se tornem
ligeiramente diferentes.
Meto-me com os livros, alinho na música e em filmes comprados
pela Aida, alguns ainda com o celofane de compra, remexo em montes de jornais,
caixas com recortes, com o desejo de os enfiar no lixo, mas há sempre uma qualquer
linha, uma palavra que obriga a reguardá-los.
Lembro-me da casa do Mário Castrim, na Rua dos Lusíadas.
Livros e jornais por tudo o que era sítio, e eu a
perguntar-lhe como é que ele se orientava com a livralhada espalhada pela casa?
«Quando preciso de
algum, assobio e ele aparece.»
Os dias desta semana têm merecido visitas a José Gomes
Ferreira.
Hoje fui apanhado a
falar sozinho por essas ruas… Que o primeiro poeta que nunca falou sozinho pelas
ruas se levante e me atire a primeira estrela! (Cá nós, os poetas, nunca
atiramos pedras uns aos outros. Só atiramos estrelas).
3.
Quando os médicos entendem cuidar do seu quintalinho,
esquecendo o resto, é provável que o cidadão comum não entenda as suas
atitudes.
O diretor do Serviço
de Cirurgia Geral e Transplantação do Hospital Curry Cabral, Américo
Martins, demitiu-se por ter visto impedida a proposta de reorganização do
serviço na unidade.
«O Conselho de Administração não aceitou a criação de
dois circuitos independentes” no Curry Cabral para manter, como propunham os
médicos, os serviços destinados aos doentes oncológicos e transplantados no
Curry Cabral».
Já há dias, o médico cirurgião Eduardo Barroso dizia não
compreender a decisão de encerrar a unidade do Centro Hepatobiliopancreático e
de Transplantação do Curry Cabral para que o hospital se possa dedicar a
receber apenas doentes infetados com o novo coronavírus, considerando o
encerramento demagógico e preocupante.
Como continuamos a ouvir o Bastonário da Ordem dos
Médicos a pontapear as decisões do governo, esquecendo (?) tudo o resto, é
normal que nos interroguemos sobre as críticas e decisões dos médicos.
Em tempo de pandemia não me parece muito correcto que se
pense apenas em vaidadezinhas particulares, no quintalinho de cada médico…
4.
A Brisa já
accionou o mecanismo para ser indemnizada pelo Estado.
5.
O senador Bernie Sanders abandonou a corrida presidencial americana:
«Não posso, em consciência, manter uma campanha sem
condições de vencer e que interferiria no que a todos é exigido nesta hora
difícil.»
6.
Em abono da verdade,
não li a crónica de última página do direitista-cronista-com-a-mania-que tem-graça-João-Miguel-Tavares,
olhei apenas o título:
«Meter as pessoas dentro de casa foi fácil. E tirá-las?»
O Dudu chateava-se
que lhe chamassem a atenção para o facto de, mesmo sem ter visto o filme, dizer
que era uma merda.
Caro direitista-Tavares:
Nem uma coisa nem outra
estão no capítulo das facilidades terrenas.
Não foi fácil as
pessoas ficarem nas suas casas, não vai ser fácil tirá-las de lá!
Os jornais, as
televisões só deviam aceitar colaboradores que apresentassem provas de que se
lavam todos os dias!
7.
Os negros números:
Itália
18.279 mortes
Espanha
15.238 mortes
Estados Unidos
14.695 mortes
França
12.210 mortes
Grã-Bretanha
7.097 mortes
Irão
4.110 mortes
China
3.215 mortes
Bélgica
2.523 mortes
Alemanha
2.451 mortes
Holanda
2.396 mortes
Portugal
409 mortes
Mundo
93.425 mortes
8.
«Vivi tanto
que já não tenho outra noção
de eternidade
que não seja a duração da minha vida»
António Ramos Rosa
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