Estas são as últimas
fotografias de murais, pintados, pós 25 de Abril, nas ruas de Lisboa.
Havia mais
algumas mas estão em muito pior estado do que aquelas que foram publicadas.
Há 46 anos, sem
muitos o saberem, chegávamos à véspera do Dia das Surpresas.
Neste caminhar do
25 de Abril pelo tempo, há quem pergunte se o 25 de Abril cumpriu o que, por
aqueles dias, foi prometido ao povo.
Há um poema de
José Saramago em que se pode ler:
«O homem diz que sabe o caminho, mas não
acrediteis porque o homem não sabe o caminho e há sessenta séculos que o homem
diz: Eu sei o caminho mas nós sabemos que o homem não sabe o caminho e outros
sessenta séculos ouviremos o homem dizer: Eu sei o caminho mas o pobre do homem
não soube, não sabe, nem saberá jamais o caminho.»
Não sei das
contabilidades do cumpriu ou não cumpriu.
Pelo menos sei de
uma, e considero-a de uma importância tal que me faltam palavras:
O FIM DA GUERRA
COLONIAL!
Lembram-se das
palavras de morte que o botas-ditador-de-santa-comba
nos lançou?
«A Pátria não se discute, defende-se!»
Mas qual pátria?
Toda uma juventude serviu de carne para
canhão para defender o que nem sequer era nosso.
O Jorge de Sena tem um poema, simplesmente
arrepiante, que marca o quanto foi possível aqueles ditadores de pacotilha
terem resistido tanto tempo:
«Uma vez eu, chegando a Portugal
após muitos anos de ausência minha e alguns
de guerras africanas, encontrei uma vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Africas, arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito mais
que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.
E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!»
«Uma vez eu, chegando a Portugal
após muitos anos de ausência minha e alguns
de guerras africanas, encontrei uma vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Africas, arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito mais
que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.
E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!»
Os cinco dias a que me propus o colocar
fotografias dos murais, juntando uma canção daqueles tempos, levou a que muitas
dessas canções tivessem ficado de fora.
Mas o Manuel Freire não poderia faltar.
Foi ele que com a «Pedra Filosofal» divulgou
o António Gedeão, o próprio poeta o reconheceu, que não teria a projecção que
teve, se não fosse essa canção.
Legenda: o título
é tirado de um poema de Egito
Gonçalves.
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