“Rio Sem
Regresso” (Otto Preminger – 1954) é um filme que parece não ter deixado grandes
saudades a quem o fez…
Marilyn
Monroe tinha os caprichos que se conhecem, Robert Mitchum o mau feitio que se
sabe, e Preminger também tinha a fama de ser um realizador com quem nem sempre
era fácil trabalhar.
Mistura
explosiva, portanto, e todos trataram de esquecer rapidamente o filme.
Parece que Bob Mitchum nem queria sequer ouvir falar nele e chamava-lhe “the
picture of no return”…
Curiosamente,
nada disto transparece no filme, que aos meus olhos é um filme sereno, com a
beleza telúrica daquelas magníficas paisagens das “Rocky Mountains”
canadianas, tudo isto em Cinemascope e com uma bela fotografia de Joseph
LaShelle.
Apesar de
alguns perigos (os índios, os “rápidos”, os “maus” que não são índios,…), o
filme desenrola-se serenamente, por entre as montanhas e ao sabor do rio,
desaguando naquele inesquecível happy
end do Mitchum com a Marilyn às costas, que todos nós desejávamos que
acontecesse…!
E de todos os
filmes de Marilyn, “Rio sem Regresso” é um daqueles onde mais gosto
de a ver.
Sinto vontade
de rever, de vez em quando, aquela cena onde, tão bonita e tão serena, guarda
num saco os sapatos altos vermelhos, símbolo de um passado que desejaria
encerrar para sempre, veste a camisa, ajeita os cabelos, desaperta o cinto, põe
as fraldas para dentro, puxa da guitarra e canta para o miúdo “Down in the
Meadow”, como quem embala nos braços, ternamente, a criança que sempre
desejou mas que nunca conseguiu ter.
O filme foi
realizado aqui, nos arredores da bonita cidade de Banff, no Canadá.
Onde veem as
quedas de água, o operador de câmara teve muito cuidado em ocultar tudo
quanto era urbanismo e modernidade, que fatalmente apareceriam na imagem se
descaísse a câmara um pouco mais para a direita, ou para a esquerda...
Mas o rio
atravessa um enorme Parque Nacional, pelo que grande parte dos espaços
permanecem livres e selvagens.
Parei num
deles para fazermos um piquenique.
Sentei-me
junto ao rio, pousei nele o olhar e o pensamento e deixei-me levar pelas
águas...
“There is a
river, called the river of no return
Sometimes
it’s peacefull and sometimes wild and free
Love is a
traveler on the river of no return
Swept on
forever to be lost in a stormy sea (wail-a-ree...)
I can hear
the river call (no return, no return, ...)”
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
Texto e fotografias de Luís Miguel Mira
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