Naquele tempo as
fotografias eram em papel, possivelmente, alguém em qualquer parte do mundo, já
pensava noutras maneiras de as guardar.
Já passaram
muitos e muitos dias e as cores dos murais foram ficando para o desmaiado.
Mas por que será
que o papel é sempre o papel?
Mudando o disco.
Há um texto de
Sophia Mello Breyner Andresen, fragmento poético de Os Gracos, que guarda uma
lição de política.
«Os ricos nunca perdem a jogada, nunca fazem
um erro. Espiam. E esperam os erros dos outros. Administram os erros dos
outros. São hábeis e sábios. Têm uma larga experiência do poder e quando não
podem usar a própria força, usam a fraqueza dos outros. E ganham.»
Não lemos bem as
lições que nos dizem para ler.
Não aprendemos com
as lições que devíamos ler, ou ler com mais atenção.
Sabemos das
razões, mas fazemos por olvidar.
Ficamos a
inquietação da distância.
«Valerá a pena você gastar tanta inteligência
para explicar aos parvos que são parvos?
De uma carta de
Sophia para Jorge de Sena, Maio de 1962.
Nos tempos da
ditadura, numa televisão a preto e branco, o país sentava-se atentamente frente
ao aparelho para assistir ao Zip-Zip.
Apesar dos cortes
da censura, era um programa que conseguia passar para lá do habitual
cinzentismo que nos assistia.
Por ele o país
ficou a conhecer Almada Negreiros, o poeta António Gedeão, outros mais, por ele
começou a ver e a ouvir uma série de rapazes que, de viola na mão, cantavam
coisas fora do circuito do então já chamado nacional- cançonetismo.
Mais espantadas
ficaram as gentes quando uma noite um padre, Francisco Fanhais de seu
nome, pegando num poema de Sebastião da Gama, entrou casa dentro a dizer que a
um rouxinol lhe tinham quebrado as asas não o deixando voar, lhe quebraram o
bico não o deixando cantar.
Legenda: o título é tirado de um poema de Egito Gonçalves.
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