José Milhazes, comentador político na SIC, escreveu num destes dias:
Em vez de celebrar de forma atabalhoada o 46º
aniversário do 25 de Abril, seria mais sensato transferir as comemorações para
quando a pandemia estiver dominada, e realizá-las no dia 25 de Novembro.
Os muitos Josés Milhazes que esperneiam por aí, respiram
uma demência senil para a qual ainda não foi encontrada vacina.
Este José Milhazes nasceu em 1958, foi militante do PCP,
estudou História na então União Soviética, doutorou-se e por ali viveu uns bons
anos.
Nunca fui de grandes viagens, e se aconteceram foi por
motivos profissionais.
Há uma série de países que gostava de visitar, mas a
União Soviética está completamente fora de questão.
Era miúdo quando aconteceu a invasão da Hungria, já não
era miúdo nenhum quando aconteceu a invasão da Checoslováquia e isso, com boas
ou más fontes que me passaram pelos olhos, chegou para deixar escorregar os
amanhãs que um dia poderiam vir a ser cantados.
Sobre a invasão da Checoslováquia tive longas conversas
com o meu pai, que era um convicto marxista-leninista, discussões bem
acompanhadas por tintos de colheita do ano, nunca grandes vinhos-para-enganar-burguês.
Não que o meu pai concordasse
com tudo o que se passava na União Soviética, ou que o socialismo estava à disposição
numa qualquer loja de esquina, mas guardava convicções que o levavam a ser um
homem daquele sonho.
Sou de esquerda mais por Roger Vailland, Albert Camus, Roger
Martin du Gard, os neo-realistas italianos, portugueses, outras leituras, do
que por Marx, Engels ou Lenine, não lidos na íntegra, sou de esquerda porque é uma
maneira de ser, como dizia o José Saramago.
Bastas vezes chateio-me com o Partido, entendo que lêem
pouco, dizem, praticam coisas que não consigo entender, mas li a Autobiografia de Mário Dionísio, de quem
gosto muito, e por lá está escrito que os erros dos nossos amigos não podem
fazer-nos esquecer os nossos inimigos.
Bom, mas eu vim aqui pelo disparate do José Milhazes e acabei
por me meter por ruas, travessas e
becos, mas o que queria dizer realmente
é que para um fulano que se formou em História, mesmo que tivesse sido na União
Soviética, não calha bem dizer que a gente do 25 de Abril comemora o 25 de
Novembro.
Equívocos, ou habilidades, palavras suaves, que servem para
continuar a enganar quem não pensa pela sua cabeça, ou tem preguiça em assim
pensar.
Por aqui me fico e é tempo de escolher a música.
Porque é domingo, e como andámos por aqueles lados, ficamos
com a Valsa nº 2 de Shoskatovich.
1.
«O mercado de trabalho português é marcado pelos baixos
salários e pela precariedade (em 2018, mais de um terço dos trabalhadores do
privado tinha um contrato de trabalho não permanente e 76% do emprego líquido
criado no privado nos últimos seis anos assentou em vínculos precários). São
estes os trabalhadores mais vulneráveis.
Do mesmo modo, a dinâmica de emprego dos últimos anos
traz consigo elementos de fragilidade. Entre 2013-19 foram criados 500 mil
postos de trabalho, entre os quais 75 mil no sector do alojamento e
restauração. Empregos que, agora, ficarão muito expostos a este choque brutal
de procura. Os dados preliminares dão conta de que nestas semanas, neste
sector, 62% das empresas encerraram temporária ou definitivamente.»
Pedro Adão e Silva
2.
A afirmação de Ursula von der Leyen, presidente da
Comissão Europeia de que os velhos deveriam manter-se isolados até ao final do
ano, deixou-me em polvorosa.
A deputada do Partido Socialista Isabel Moreira, escreve
sobre esta ideia da senhora presidente, no Expresso:
«Simplesmente,
sabemos que a partir de um determinado momento vamos começar, lentamente, a
fazer a nossa vida em novos moldes. Nada será como antes. Ainda não sabemos
como decorrerão os dias após o isolamento sem vacina, mas certamente teremos de
nos proteger e de proteger terceiros, tentando que saúde e vida mais ou menos
habitual se conjuguem, porque precisamos de sair disto com um país de pé.
Precisamos, também,
de sair disto como gente. Todas as pessoas precisam de ver as suas pessoas,
todas as pessoas precisam de passear, ainda que com restrições, todas as
pessoas precisam de algum sentido de normalidade.
O que não é normal
é o discurso da clausura dos idosos por tempo indeterminado como se gente acima
de certa idade, que vive em contextos muito diferenciados, não tivesse
autonomia individual, autodeterminação, capacidade de tomar decisões, incluindo
a capacidade de escolher quais os riscos de saúde que quer ou não assumir.
Não se pode esperar
com enorme tranquilidade que homens e mulheres acima de 65 anos fiquem fechados
em casa ou em lares por meses e meses, sem direito ao mundo exterior, sem
direito ao afeto, sem direito a escolher. Quando estivermos em período de
regresso à normalidade, as pessoas idosas não podem ser condenadas a morrer da precaução.
Pelo contrário, temos de as respeitar enquanto cidadãos e cidadãs capazes de
fazerem as suas escolhas, livres naquilo que não afete terceiros, gente que
ainda quer ser gente.»
3.
Um homem de 26 anos morreu, na tarde deste domingo,
vítima de agressões com uma arma branca, ocorridas no bairro da Brandoa, na
Amadora. Os dois alegados autores do homicídio foram detidos no local.
4.
Os negros números:
Em Portugal morreram 714 pessoas.
Os Estados Unidos registam 38.664 mortos, no estado de
Nova Iorque ocorreram 14.451 mortes.
Itália: 23.660 mortos
Espanha: 20.453 mortos
França: 19.718 mortos
Grã-Bretanha: 16.060 mortos
Em todo o mundo já morreram 164.716 pessoas.
4 comentários:
É através destas sugestões estúpidas, que se percebe que ainda há quem olhe para o 25 de Abril de lado, Sammy.
O CDS apoiaria a ideia, assim como algum PSD e PS, por mais absurda que seja, até para quem fez o 25 de Novembro...
Este José Milhazes fala com a boa cheia de nada, parece o Vata.
Falam tanto do 25 de Novembro, da sua importância, isto e aquilo mas, que me lembre, nunca fizeram um desfile comemorativo da data.
Caro Seve, não gosto de golos com a mão mas, a carne é fraca, aquela mão do Vata deu um certo jeito, não deu depois para ganhar a taça mas isso já é outra parte da história.
Abraço
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