Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
1º DE MAIO
Joaquim
Vieira foi director de uma revista que se publicava aos sábados,
simultaneamente, no Diário de Notícias e no Jornal de
Notícias.
Por um 25 de
Abril, publicou um texto a que chamou: O QUE FALTA CUMPRIR.
Onze
pontos, algumas coisas que ainda não sucederam em Portugal para dar
sentido ao 25 de Abril:
ELEGER
políticos que ponham o serviço público à frente de quaisquer
outros interesses.
AUMENTAR a
produtividade a todos os níveis, do sector público ao privado, para nos
podermos intitular europeus de pleno direito.
ACABAR com a
pequena corrupção, que favorece a permissividade, levando inevitavelmente à
grande corrupção (a qual, por sua vez, carece de repressão mais eficaz e
intransigente).
CUMPRIR
o direito à saúde, entre outras coisas acabando com as listas de espera
hospitalar.
APOSTAR em
métodos de educação que cativem os jovens, de forma que a universalidade do
ensino obrigatório seja mais do que mera intenção escrita no papel.
ADMINISTRAR
uma justiça célere, que em tempo útil promova a condenação dos culpados, a
ilibação dos inocentes e o ressarcimento das vítimas ou dos seus herdeiros.
REFORMAR
a função pública, para que agilize a máquina do Estado e resolva os
problemas dos cidadãos; e para que os seus quadros sejam recrutados só por
avaliação de competência.
PLANEAR cada
projecto público tendo como prioridade um país onde se viva melhor.
DEFENDER o
ambiente como património nacional, protegendo-o das agressões urbanísticas e
desenvolvimentistas sem ceder a pressões.
PROTEGER as
crianças e os jovens de todo o tipo de agressão. e exploração, até a nível
familiar.
ESTIMULAR os
cidadãos a informar-se melhor e facilitar o seu acesso às manifestações
culturais que devem informar-se melhor e facilitar o seu acesso às
manifestações culturais, que devem ser multiplicadas por forma a disponibilizar
ao público mais alternativas.
Parafraseando
alguém à espera de ser libertado enquanto se derrubava um regime: portugueses,
mais um esforço para ser verdadeiramente revolucionários.
Nem
revolucionários conseguimos ser, quanto mais verdadeiros
revolucionários.
Passado um tempo,
bem perto dos dez anos, olha-se a lista elaborada por Joaquim Vieira,
e constatamos que nem só nada disto aconteceu como, em grande maioria,
regredimos a situações bem dramáticas.
Quem neste 25 de
Abril saíu às ruas, apesar da alegria, dos encontros, dos abraços, dos beijos,
dos cravos no peito, no cabelo ou na mão, os punhos no ar, adivinhava-se uma
certa melancolia, quase tristeza, sentimentos que, normalmente, acontecem a
gentes derrotadas.
Mas não deve ser
isso...apenas a minha velha tendência para o pessimismo...
Final da crónica
que Baptista-Bastos, publicou, esta semana, no Jornal de Negócios:
Trinta e nove
anos depois de Abril, que resta do "dia inicial inteiro e limpo"?
Cantado por Sophia. A vitória de um capitalismo que se não confronta com nada;
o regresso dos ódios ancestrais à Alemanha; a traição dos partidos socialistas;
o retorno da violência nazi-fascista; a escassa força do comunismo; o
recrudescimento de uma arrogância da chamada elite dominante (atente-se nas
declarações dos banqueiros) que julgávamos definitivamente arredado do nosso
horizonte. A Europa, dominada pelo Partido Popular Europeu, onde se acoitam as
expressões mais hediondas da extrema-direita, e da direita encolhida, impõe
normas violentíssimas aos países sob tutela. Portugal está entre as baias de
uma política desordenada e sem direcção. O grupo do PSD, que trepou ao poder
nos andaimes da mentira, da omissão e do desprezo, não passa de uma enunciação
sórdida do que de mais suportável existe. Resta-nos a força de não-querer, a
energia que advém da nossa história de resistentes. E nunca esquecer de que o
25 de Abril existiu, embora estes que tais desejem apagá-lo.
Texto publicado no dia 1 de Maio de 2013
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